A multidão que assistia animada seguia para a parte de trás, em um campo plano onde eu havia presenciado a primeira luta de espadas na minha vida. Encaminhei- me para o meio dela, e assim como meu adversário, sem escudos ou as roupas de treino, teria que dar conta com meu vestidinho verde, que Seline não surtasse se visse ele com alguns rasgos, novamente.
Olhei em volta à procura de Ícaro, não o localizei, quando soubesse no que eu havia me metido agora cuspiria fogo de raiva. Olhei mais uma vez no meu perímetro e nada dele aparecer. Banho demorado!
-As regras são simples, nada de golpes sujos e nada de provocações, se querem resolver algo que seja na espada – Tegor dizia plantado entre nós dois iguais os juízes de boxe fazem antes da luta começar – O primeiro que cair, perder a espada ou for neutralizado estará eliminado. Entendidos?
-Sim. – Dissemos juntos enquanto seus olhos ainda me fuzilavam.
- Ludir, preparado? - Vi o anencefálico do meu adversário assentir – Stela? – Fiz o mesmo que ele, bastando para Tegor – Que a luta comece.
Em alguns momentos desde que cheguei a Nimalgia eu imaginei o que faria se estivesse em um duelo, sentiria medo? Paralisaria sem reação? Sairia correndo? Nunca tinha chego a nenhuma resposta. Imaginava que como qualquer pessoa coerente temeria um momento como esse, a luta podia não ser letal, mas as laminas das espadas eram e embora me dissessem que não havia mortes eu duvidava que não fosse provável que algumas acontecessem. No momento em que Tegor deu início eu me encontrava agora sozinha naquele campo com nada além de minha espada. No calor do momento eu havia concordado com isso, queria provar para aquele tosco o que podia fazer... mas a verdade era, o que podia fazer com uma espada?
E ali, bem naquela luta eu obtive a minha resposta, uma adrenalina, mil vezes maior do que quando o juiz apitava o início de uma partida de basquete, tomou conta de mim, naquele instante eu sabia o que tinha que fazer, todas as aulas de Ícaro e as horas de treino, ainda que básicas, iriam me ajudar, existia uma força dentro de mim que nada podia frear, me sentia forte e capaz de mover montanhas nesse momento.
Meu braço protestou quando ergui a espada, a manhã de treino havia levado meu corpo ao limite e agora eu implorava por alguns minutos mais.
Ludir ergueu sua espada da mesma forma do que eu e avançou para cima de mim, sua fúria o estava cegando. Ele tinha quebrado a regra número dois: nunca subestime seu oponente, porque aquele era o golpe mais fácil de prever, esperei que ele estivesse bem próximo e no último instante girei com o corpo para a direita saindo da sua frente. Ao fundo escutei os assobios da torcida que riam diante da cena.
Recuperado agora do primeiro ataque falho, Ludir começou a tomar menos velocidade e estudar meus movimentos de pés, sabia que o ele estava fazendo então parei de andar, ele partiu novamente para cima de mim, enquanto eu interceptava o golpe dele e mentalmente xingava Ícaro por ter pego leve nos golpes comigo. Os de Ludir reverberam pelo meu braço muito mais do que eu havia treinado. Afrouxei um pouco a pegada na empunhadura e deixei o pulso livre, meu rival era rápido enquanto me atacava então tudo acontecia a milésimos de segundos na minha mente, uma errada na direção da minha espada e eu perderia a batalha... e talvez o pescoço.
As laminas das espadas brilhavam com os raios de sol incidindo nelas na sua intensidade mais forte. Ludir havia achado um ritmo me atacando diversas vezes fazendo com que eu tivesse que recuar alguns passos, ainda assim estava muito próximo de mim para que eu conseguisse fugir dos golpes como da primeira vez. Quando sua espada colidiu com a minha na altura do ombro forcei meu braço para frente o empurrando alguns passos fazendo com que tropeçasse algumas vezes. Sem dar muito tempo para ele pensar, inverti os acontecimentos e comecei a ataca-lo, não tão rápido como gostaria, ele tinha mais facilidade em prever meus movimentos e intercepta-los milésimos de segundos antes do tempo. Aquilo não durou muito e imitando o que eu havia feito, ele conseguiu me empurrar para trás em poucos golpes.
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Reino Amaldiçoado
AdventureStela acredita ser uma adolescente como as outras, até que um grave acidente muda tudo. Levada a um mundo paralelo, conhecemos o enigmático reino de Nimalgia, amaldiçoado há muitos anos por um Rei tirano, as pessoas vivem presas dentro de seu própri...