Capítulo 12

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Assim que cheguei à casa da família Monte, Seline abriu a porta e me deu um forte abraço, falando de forma alegre que tinha preparado um jantar especial para mim e que eu iria adorar, ela tentou convidar Ícaro para participar da refeição mas ele negou veemente deixando claro que não estava para conversas.

Foi embora sem se despedir, nos dando as costas antes que eu sequer pudesse olhar para o seu rosto. O jantar como prometido estava delicioso, a senhora Monte realmente tinha um talento na gastronomia, Kael comeu mais do que na noite anterior deixando a esposa toda maravilhada.

Na hora de encher aquela banheira o casal teve a bondade de me ensinar pacientemente, e pediram desculpas pelo incidente ontem, notei que a nova engenhoca que eu não havia visto no outro dia, era mais fácil do que ficar me pendurando em uma alavanca, dessa vez era como um pedal e sem muito esforço ela estava pronta para o banho, com uma única exceção, não havia água quente, eles nem sabiam que isso era possível! 

 -Você deve estar cansada querida, os treinamentos nem sempre são fáceis. –Seline disse enquanto arrumava minha cama com um lençol novo que ela havia comprado especialmente para mim. – Tegor não deixa ninguém brincar naquele campo. 

-Ele não é dos mais simpáticos, não?

 Ela olhou para a mim e revirou os olhos, essa era a primeira vez que eu viaSeline franzir a cara para alguém.

 -Aquele troclodita tem uma pedra no lugar de coração. 

Eu ri, mesmo tentando soar irritada Seline parecia uma bonequinha.Ela se sentou na cama enquanto eu saia do vestiário improvisado com um vestido típico da população, ele era longo e bem leve como eu havia imaginado, no corpete tinha uma parte mais resistente em preto e todo o restante, até as mangas longas eram de um lilás bem clarinho. Ele era lindo, embora vestidos não fosse muito meu estilo, me senti muito bem com ele.

 -Stela! Você ficou maravilhosa, o meu antigo vestido serviu certinho em você, até mesmo no comprimento. 

 -Acha que assim as pessoas vão ficar me encarando menos? – Disse apreensiva. 

-Talvez chame menos a atenção, ainda é evidente que você não nasceu aqui, mas pelo menos se sentirá mais parte desse mundo, melhor do que aconteciam com aquelas suas calças curta de tecido estranho. - Ela franziu o cenho ante a lembrança.

Girei na frente do espelho com meu novo vestido sorrindo da cara de Seline ao se referir as minhas antigas roupas. Quanto mais rápido eu rodava mais a saia se esvoaçava mostrando partes do meu tornozelo.Eu gostava daquela nova sensação, embora fosse sentir falta das minhas roupas, no dia a dia elas eram mais praticas, principalmente para correr, só que agora meu objetivo era tirar um pouco dos olhares curiosos dos moradores de mim, e aquela parecia ser a melhor saída.

 Parei novamente olhando para o espelho admirando o que via. Meu cabelo ainda seria um problema, negro como a noite, curto nos ombros e com uma leve franja lateral, diferia de todos ali. Cogitei a hipótese de pinta-lo, mas logo tirei a ideia da cabeça, eu já estava abrindo a mão de muita coisa, não iria mudar algo que eu tanto gostava, quer eles aceitassem isso ou não.

 Eu ainda sentia o desespero por tudo o que estava vivendo, o medo, a raiva, tantos sentimentos que se os deixasse vir a tona não encontraria forças para continuar, já estava convencida que tudo aquilo era real, a aceitação era a primeira etapa do plano de ação que traçava em minha cabeça, se eu não me controlasse, Nimalgia poderia acabar com minha sanidade mais cedo do que eu imaginava.

 Pensar nessa minha viajem toda, me fez lembrar o que eu havia visto mais cedo, que ainda martelava meus pensamentos. 

-Seline, posso te perguntar algo? – Disse sentando-me na cama ao seu lado.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora