Capítulo 16

6 1 0
                                    

Assim que tudo escureceu Ícaro bateu à porta, eu ainda estava trocando de roupa, agora além do meu vestido azul, Seline me emprestou uma de suas capas, ela era fofinha por dentro, como pelo de lã, e para meu espanto também não era pesada, olhando no espelho tive a impressão que só faltava um chapéu para eu ficar igual a um dos três mosqueteiros. 

 -Stelaaaa! Você vai se atrasar, Ícaro está aqui te esperando. 

-Já estou descendo, Seline! 

Dei uma última espiada no espelho e desci, estava esgotada e nem mesmo o banho – gelado - me animou muito, contava com umas horinhas de sono pelo menos antes do meu treinador chegar, mas do jeito que ele era não me surpreendeu sua pontualidade. Na porta dei um abraço de despedida no casal e peguei uma bolsinha cheia comida, me despedi de Kael que ainda estava jantando. 

 No instante que coloquei os meus pés para fora da casa senti meu humor cair mais do que o normal, a noite era completamente diferente do dia em Nimalgia e essa era a primeira vez que eu via a Vila após o anoitecer, ela ficava sombria, não era atoa que as pessoas se assustavam de sair à noite, não havia ninguém circulando por ali, estaria um completo escuro, se não fosse pelas pequenas labaredas que surgiam do chão, acessas por alguma simpática alma.

 Estremeci temendo como seria então passar a noite dentro de uma floresta, eu normalmente não passava perto de uma nem durante o dia.

 -Não estaremos sozinhos, pelo menos essa é a única regra valida, ninguém pode ficar fora de um grupo. – Ícaro disse percebendo meu medo enquanto caminhávamos no sentido contrário que normalmente fazíamos. 

 Passamos por umas quatro esquinas e entramos em uma rua paralela, parando em frente a uma casa, um pouco maior do que a da família Monte, mas no mesmo estilo, um telhado de chalé e uma pequena porta na frente, havia iluminação lá dentro e uma algazarra que atravessava a parede. Senti ao meu lado Ícaro bufando e mesmo na parca luz pude identificar ele revirando os olhos. Puxando-me pelo braço fui arrastada até uma porta que nem tive tempo de bater, um rapaz, alto passou por nós correndo e rindo não dando chance de vermos quem era, enquanto uma mulher de meia idade, magra e alta igual ao primeiro rapaz, vinha gritando logo atrás com o rosto sujo de farinha. 

- Qual é o problema dessa família?! – Ícaro sussurrou levando a mão a testa.

 Eu estava prestes a responder quando a mulher de meia idade gritando também passou quase me derrubando como se não tivesse me visto e logo atrás a passos saltitantes, seguindo o fluxo vinha um pequeno garotinho que eu conhecia do meu primeiro dia aqui, se não estava enganada o nome dele era Cau, loiro e com a cara de anjinho que vendo agora todo travesso sabia que não era. 

 Aquela era a maior algazarra que eu já havia visto, uma mãe furiosa correndo atrás do que eu supus ser o filho, e um pequenininho na porta olhando para tudo maravilhado, rindo como se estivesse vendo a um filme de comedia. Não bastou muito tempo até que alguém notasse a nossa presença ali, parados na calçada, Cau foi o primeiro, seu sorriso sumiu do rosto no momento que olhou para mim e seus olhos se arregalaram, quase que instantaneamente ouvi os barulhos de xingos pararem ao meu lado e os olhos da mulher ficarem fixos em mim me analisando de cima a baixo, ela ficou assim parada em choque me observando, até que um braço surgiu do meu lado passando por trás de mim, assustando-me um pouco. 

-Mãe, estava esperando que o seu filho do meio fizesse isso, mas como ele é chato demais, deixa que eu apresente, esta é Stela, e Stela esta é a nossa mãe Karina. –Ítalo estava apoiado em mim com uma clara provocação para Ícaro, sendo que dele a única coisa que eu ouvia eram resmungos desconexos.

 -Prazer em conhecê-la, senhora! – disse fazendo uma reverencia que era de costume aqui, seu rosto ainda estava cheio de farinha e ela fulminava Ítalo com o olhar, não poderia duvidar do responsável.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora