Capítulo 5

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Descendo pela trilha de terra batida, Cirino e Cau iam à frente enquanto um jovem, de cara fechada andava sempre um passo há minha frente. Andamos pouco mais de quatrocentos metros quando à trilha abriu uma bifurcação, nós tomamos o caminho da esquerda, que segundo eles levariam a vila 

- Vila? – Enquanto Cirino e o garotinho, Cau, iam pela direita e prometiam nos encontrar mais tarde.

 Pouca diferença isso fazia para mim, estava confusa, uma parte da minha mente dizia que aquilo era um gigante pesadelo e logo eu acordaria, mas já havia tentado todas as possibilidades de acordar e nada estava dando certo, e era essa outra parte do meu cérebro que dizia que eu ainda estava lucida, mas completamente enrascada. Eu não resisti quando me levaram embora daquelas colinas, também não protestei quanto a ninguém fazer nada e estarem simplesmente me olhando, eu só segui. 

Havia um caminho para eu trilhar, se eu quisesse descobrir como voltar, primeiro teria que saber onde estava, e essa era a pior parte.Ícaro, o mal-humorado, ia a passos largos, ele não havia trocado uma palavra comigo depois da pergunta sobre o celular. Analisei-o atentamente, agora que seus olhos estavam longe dos meus, seu cabelo era mais claro do que tinha imaginado, e escorria pelas costas até alguns bons centímetros abaixo do ombro, estavam presos em um rabo de cavalo baixo, seus ombros eram largos, mas não como de lutadores, que de tanto anabolizantes ficavam estranhamente desproporcionais, não, o de Ícaro era normal, seu próprio porte físico. Notei que na sua cintura ao lado trazia uma pequena adaga, acoplada de forma que ficasse fácil o acesso. Não deixei de engolir em seco ao tentar imaginar qual seria a utilidade dela. 

- O que é Fênix?

 Enfim, vencida pela curiosidade. Ele não parou de andar, nem ao menos diminuiu o ritmo, sem se virar para mim ficou apenas em silencio como se conversar fosse uma tortura. 

 -O lugar dos saberes. 

 Muito esclarecedor.

 -Porque nós não vamos juntos com eles?

 -Porque a ordem foi leva-la a vila. 

-E qual é a dessa roupa medieval?

 Nesse ponto ele parou, mas tão breve que continuou seu incessante caminhar em um ritmo acelerado, se eu não fosse habituada com as corridas que fazia diariamente já estaria perdida lá atrás ainda no começo da trilha. 

 -Você fala de um jeito estranho, deveria tentar se corrigir. 

 -Eu não falo estranho, tudo mundo fala assim, inclusive você! 

-Nunca falei "qual é" quando claramente a palavra apropriada não seria essa.

 Estava mais do que obvio no seu tom de voz o quanto ele estava irritado em manter aquele dialogo comigo, era como se falar o estressasse. 

 -Está bem, então porque o uso dessas roupas de guerra e da adaga? 

Ele permaneceu em silencio novamente, somente o som dos nossos passos pisando nas pedras no caminho, não havia canto de pássaros e ao longe para além das colinas a vista se perdia ficando impossível enxergar para onde exatamente estávamos indo, até que o caminho começou a ficar íngreme novamente exigindo mais das minhas pernas.

 -Não acho que roupas estranhas aqui sejam as minhas. Para falar a verdade tudo em você soa estranho.

 -O que quer dizer com isso? Não tem nada de errado comigo. – Ou tinha? 

-Você é uma figura bem diferente do que estamos acostumados, eu mesmo nunca vi alguém com um cabelo igual o seu, curto e preto. 

Passei a mão apresada pelos meus fios, tentado doma-los depois de todo o vento, eu não estava nos meus melhores dias de aparência, mas a falar que ter um cabelo igual o meu era estranho, isso já era demais. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora