Capítulo 11

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Eu já tinha quase desistido, estava na página quinze e tudo o que falava era do nascimento do futuro Rei, e de como seu pai governou Nimalgia majestosamente, nada que ainda pudesse esclarecer alguma coisa, exceto pelo fato que em nenhum momento o livro falava sobre maldição, morte, aprisionamento, nada!

 Na verdade, Nimalgia era descrita como um Reino muito alegre sendo referência para os demais em crescimento. Algo me dizia que eu estava na direção certa, só precisava de um pouco mais de tempo. 

 Levantei-me daquele chão frio, e senti minhas pernas protestarem, o treino havia sido mais pesado do que normalmente era acostumada, percebi também sutilmente queestava fedendo, precisava de um banho urgente.Forçando minha mente para tentar lembrar o caminho que havia percorrido no meio daqueles corredores todos iguais, até um sussurro em algum lugar por ali indicar o caminho, alguém estava conversando dentro de uma daquelas salas, colocando o ouvido de porta em porta ouvia as vozes ficarem mais próximas, até que já tinha conseguido distinguir de quem eram só pelo timbre.

 Cirino e Ícaro conversavam em algum lugar.O corredor estava chegando ao fim e só havia mais uma porta. Preparei-me para bater, parando no último instante, aproximei mais para a esquerda da maçaneta de forma que meus pés não fizessem sombras por debaixo da porta e tornasse visível que alguém os espiava.

 -A força dela está fora do normal, é quase como se já tivesse passado pela transição. –Cirino dizia exasperado.

 -Não tem como, você mesmo viu, ela não tem a marca. E a melhora dos sentidos? 

O tom de voz de Ícaro soava rude, ele estava na defensiva e eu já podia imaginar sua expressão sem nem mesmo estar vendo, os olhos gélidos, o maxilar travado. 

-Você disse que ela te venceu no percurso hoje, não são todos que conseguem fazer isso logo no primeiro dia. 

 -Eu sei, eu sei Cirino, mas isso não quer dizer nada, eu vi como ela se portou hoje, fora a força nada foge dos padrões para a idade, mesmo para o treino, é um bom preparo físico, provavelmente ela treinava no Reino Mundano. 

 Ouvi um arrastar de cadeira e depois tudo ficou silencioso. 

 -Não existem esses treinamentos da onde ela veio, eles nem ao menos sabem da nossa existência. Somos quase que um universo paralelo ao deles. 

 -Então como ela pode ter chego até aqui? Enquanto todos querem sair, ela entra – Sua risada era fria, cruel, até que eu ouvi um suspiro de resignação – Se ela for mesmo um de nós amaldiçoados, isso significa que mesmo fora da esfera de Onor a praga ainda é válida. 

 -Kael falou que ontem além da colher quebrada ele viu a alavanca da banheira, uma das engenhocas falhas dele, um pouco desgastada, suspeita que ela tenha usado aquilo, o que tecnicamente era para não estar conseguindo levantar nem o braço hoje.

 -O que quer dizer? 

 -Depois que eles construíram a casa e a engenhoca na banheira, perceberam que havia ficado muito pesado para utilizar, nenhum dos dois estavam conseguindo, então fizeram uma adaptação em baixo, iguais as das demais. Creio que a sua também seja assim.

 -Mas Stela utilizou a alavanca? 

 Ouvir meu nome saindo no meio daquela conversa tornava tudo mais real, era evidente que Ícaro não estava nem um pouco feliz com isso. Alguém deve ter assentido porque a sala caiu no silencio.

 -Escute, sei que você não está feliz com isso tudo, mas tente pensar pelo bem da coisa... 

-Que bem da coisa Cirino? Quem fica bem quando entra aqui? Seja quem foi que a mandou, fez muito mal. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora