Capítulo 21

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Por mais que eu tentasse não conseguia tirar meus olhos do quadro. Uma sensação nauseante tomou conta de mim, e tudo o que eu queria era acordar daquele pesadelo, estava aceitando bem um mundo como Nimalgia e suas regras, estava aceitando bem toda essa história de magia, e até podia entender as tragédias, mas aquilo já beirava a loucura.

Falar com mortos!

Isso nunca esteve nos planos, isso nem ao menos é possível.

Um grito escapou da minha garganta minhas mãos suavam e só fui me dar conta do que se passava a minha volta quando um tapa atingiu o meu rosto, não era forte, mas tampouco foi sutil. Virei para Ícaro, ele ainda falava coisas que meu cérebro não decifrava, não sabia dizer se estava falando em outro idioma ou no meu próprio. Não fazia diferença.

Ainda em choque estendi meu braço para o quadro.

-Fo-f-foo-... – Engoli em seco e tentei encontrar minha voz novamente – Fo-oi ele!

Olhei para Ícaro, sentindo meu pescoço protestar pela tensão, ele olhava para mim e para o quadro tentando decifrar um enigma sem muito sucesso.

-Stela, o que você está tentando dizer? Foi ele o que?! – Ícaro parecia desesperado enquanto suas mãos presas nos meus ombros me sacudiam de leve.

-Foi ele. Foi ele, Ícaro! – O desespero tomava conta da minha voz e senti minha visão embaçar, ficando turva gradativamente, por sorte consegui ir recobrando os sentidos a ponto de evitar que alguma lágrima escorresse – Foi ele quem me mandou para cá, que invadiu os meus sonhos, que falou todas aquelas besteiras para mim e fez eu me perder ontem à noite. Ele esteve em casa!

Na minha frente, Ícaro olhava fixo para mim. Senti no exato instante em que ele processava as minhas palavras, seu rosto ficou branco, e seus olhos se arregalaram. A tocha que estava agora apoiada em um suporte na parede nos iluminava por completo. Ele abriu a boca para falar e nada saiu dela, ele tentou de novo e vi o quanto o que eu tinha dito havia o pego de surpresa.

-Co-como? – Seus olhos começaram a piscar tentando raciocinar tudo, ele voltou a atenção para o quadro e depois para mim – Defel está morto a passagens, Stela!

-Acredite em mim, por favor! Sei o que estou falando, jamais iria confundir isso. 

Voltando a olhar para o quadro e depois de novo para mim, e então pareceu assentir com o meu pedido. Pegando a tocha novamente e me segurando com o outro braço praticamente me arrastou para fora daquele corredor.

-Vamos sair daqui.

Ele praticamente me arrastou, , não era agressivo, ele tentava me dar o apoio que precisava, ao seu jeito. Percorremos todo o corredor novamente, sem nos atentar em nada dessa vez.

Saímos da sala real e entramos no corredor principal, pulando tudo o que tinha na frente, mal enxergando o caminho direito. Podia sentir o pânico de Ícaro e sabia que no fundo ele acreditava em mim, caso contrário nesse exato instante ele poderia estar rolando no chão de tanto rir de uma bizarrice dessas. E eu temia que os outros fizessem o mesmo. Já tínhamos passado boa parte do corredor principal, quando ele parou bruscamente, ficando cara a cara comigo. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora