Capítulo 4

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Meu coração estava disparado, tudo em mim tremia, choque seria uma boa palavra para simplificar o que se passava comigo agora. Caminhando de costas enquanto aquele mesmo vulto dourado se aproximava. Desta vez ele não trazia o sorriso amistoso, sua cara estava séria, pensativa.

 Ele vinha para perto lentamente, atravessando a mesa de centro e o sofá por dentro deles! 

-Sua jornada está prestes a começar – novamente aquela voz harmônica ecoou e eu tive certeza de que havia sido produzida dentro da minha cabeça, porque sua boca não se moveu um milímetro que seja.

Gritei ainda mais alto e corri para o meu quarto trancando a porta, coloquei uma cadeira bloqueando a maçaneta, embora se ele pudesse atravessar móveis, porta não seria um problema. Estava tentando abrir a janela, perdendo a batalha pelo vento quando uma mão dourada surgiu dentro do meu quarto, seguido por aquele corpo imenso, provavelmente mais de dois metros de altura.

 -Você conseguiu Stela, está na hora de voltar para a casa.

 -Não vou voltar para lugar nenhum! Eu estou em casa! 

Tentava empurrar a folha da janela, mas meu ombro ainda não estava totalmente curado e o vento, estava mais do que anormal, nunca havia visto algo assim antes. 

 -Já faz muitos anos que esperamos pelo retorno da geração. E finalmente apareceu uma herdeira.

-Sai daqui, não quero saber de nada disso. SAI DA MINHA CASA!

 Eu peguei um caderno e arremessei nele e mais uma vez a forma translucida deixou que passasse para o outro lado, sem causar dano nenhum. Estendendo a mão para mim, aquele sorriso do ultimo sonho voltou, que trazia promessas de que nada de ruim me aguardava.

 -Me de a mão, há um lugar te esperando, há muitos anos. - sua mão continuava estendida enquanto eu colava minhas costas na parede atrás de mim – Não tenha medo, não lhe farei mal, mesmo que quisesse, eu não poderia. 

 Tentando me convencer de que aquilo ainda era um sonho, fechei os olhos, contei até dez mentalmente, acalmando as batidas do meu coração e colocando os pensamentos coerentes em foco, me belisquei no braço e abri os olhos. 

 Aquilo tinha que ser um sonho. 

 Tinha que ser...Tinha...Sua grande mão dourada encostou em meu braço, e um vento ainda mais poderoso passou sob nós, balançando meu cabelo, minhas roupas, minha sanidade e qualquer outra coisa que pudesse explicar o que estava acontecendo.

 -Sei que está assustada, jovem guerreira, mas o seu coração é bom, saberá o que fazer. 

 Sem chance de correr, de gritar, ou de lutar contra tudo que estava acontecendo, senti um buraco surgindo em baixo de mim, perdi o equilíbrio das pernas, o vento ainda passava furiosamente enquanto o escuro crescia a minha volta, meus pés saíram do chão e eu não sabia dizer se estava indo para cima ou para baixo, era como se tivesse entrado dentro de um tornado, até que tudo ficou branco, tão ofuscante quase me cegando, então sem mais nem menos um impacto e cai rolando enquanto folhas grudavam em mim , o branco ofuscante começava a diminuir a minha volta dando visão do enorme gramado e das colinas ao fundo. 

Levei alguns segundos para me orientar, sentia zonza, lembranças de quando criança e eu brincava por tempo demais no roda-roda. Escutei vozes atrás de mim e quando tudo ficou nítido, desejei poder estar sonhando. Três pessoas me observavam boquiaberto – pelo menos eu não era a única espantada ali – um senhor magro, com uma barba rala e um cabelo tão longo quanto se era possível imaginar, todo branco. Um garotinho nas suas pernas com cabelos loiros e também compridos tentava espiar pelos fios que lhe caiam nos olhos, e por ultimo, um rapaz, provavelmente da minha idade, com os cabelos no mesmo tom claro do garotinho, estava preso para trás não revelando seu comprimento, seus olhos eram de um azul fantástico. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora