Capítulo 23

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Estava vendo as ondas do mar atingirem as pessoas na praia e ao meu lado na areia eu e Brenda tagarelávamos sobre seu mais recente desastre amoroso quando tudo começou a chacoalhar, as ondas do mar tremiam e vi de relance minha amiga começar a ficar mais esbranquiçada, até que eu começasse a sentir a textura de uma colcha, o conforto de um travesseiro e o incessante balançar do colchão.

-Acorde, Stella. Logo Ícaro estará batendo na nossa porta. – Seline dizia calmamente – Você dormiu demais hoje.

Aos poucos fui recobrando os sentidos. Nimalgia. Ícaro. Treino. Perdendo hora!!

-Estou indo, estou indo – Disse pulando da cama, dando um susto em Seline – Quanto tempo ainda tenho?

Olhei para mim e notei que vestia as mesmas roupas de ontem, peguei no sono do jeito que estava com o livro ao meu lado.

-Acho que tempo suficiente para um banho ainda.

-Ótimo!

Corri como uma desesperada e foi bom quando voltei para quarto, agora limpa, e um vestido novinho em folha esperando por mim em cima da cama. Verde escuro.

Arrumei meu cabelo, estava um pouco úmido ainda e resolvi prendê-lo em um rabo de cavalo, deixando mais ressaltado o leve rubor nas minhas bochechas devido ao sol de Nimalgia, uma rápida olhada no espelho conferindo se tudo estava em ordem.

-Ora, como você está bonita, menina! Este vestido ficou ótimo. – Seline disse da sala enquanto eu descia as escadas.

-Não acho que um vestido bonito vá agradar o Tegor a ponto de reduzir o treino hoje, mas é bom tentar.

-Aquele durão caduco? Deve dormir dentro do campo de treino – Kael saia da cozinha com um pedaço de pão em uma mão e na outra segurava uma caneca fumegando. – Desde que ele se tornou responsável pelos treinos ninguém consegue mais ter uma conversa amigável com ele sem que acabe com a ponta de uma espada na cara.

-Mas quem sabe você consiga convence-lo, Stela? Não perca as esperanças.

-Nunca, Seline – Sorri para eles me despedindo – Vou esperar Ícaro lá fora, vejo vocês mais tarde.

Assim que fechei a porta fui recebida por um agradável aroma de flores, o que contrastava bastante com o dia que estava surgindo. Na rua de pedra, como eram todas de Nimalgia, passava uma carroça com o senhorzinho conduzindo e na parte de trás a explicação daquele perfume que inundava o caminho que ele percorria. Repleto de flores dos mais variados tipos e cores. Se eu fosse uma pessoa mais entendida de plantas conseguiria identificar quase todas, infelizmente meu conhecimento caia apenas a rosas e tulipas.

-Bom dia, moça! – O senhorzinho me cumprimentou do alto da carroça, fazendo o chapéu com a grande aba encobrir parcialmente seu rosto.

Cumprimentei de volta enquanto via-o seguir em frente. Minha mente agora mais descansada ainda voltava nos acontecimentos dos últimos dois dias, o aparecimento de Defel, aquela frase no livro, tinha alguma conexão, forcei a memória para tentar lembrar quais foram às palavras exatas que ele havia me dito aquele dia em casa, era algo como voltar ao caminho correto. Eu era a resposta para alguma coisa, não vim parar aqui por acaso ou por conta da maldição. Tinha algo mais e no fundo eu sabia que Cirino concordava comigo.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora