Capítulo 30

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Não demorou muito e começamos a ouvir a movimentação da nossa caixa, o balançar fazia com que tudo dentro ameaçasse cair, minha sorte era não ter enjoos facilmente. Embora tudo estivesse correndo bem uma coisa me intrigava.

-Porque acha que eles não vieram conferir as cargas após a confusão? – Sussurrei, embora sentisse que o solo já estava a bons metros abaixo de nós.

-Não sei – Ícaro disse dando de ombros – talvez não esperassem por algo assim.

O silencio novamente pairou entre nós dois, a tensão e o medo era visível só na nossa postura, estávamos sendo os primeiros em décadas a ultrapassar a barreira.

-Qual é a sensação? – Disse.

-De sair de Nimalgia? – Eu assenti – Não sei explicar, me sinto mais forte, mas ao mesmo tempo fraco, isso faz algum sentido?

Sim, fazia, era fácil entender o que estávamos fazendo ultrapassava muito a linha de qualquer pequeno feito, e essa era só a parte mais fácil, entraríamos em um lugar completamente desconhecido e onde nosso inimigo morava, preparados a enfrenta-lo.

-Vamos conseguir!

-Vamos.

Sua resposta não foi das mais convincentes, mas preferi não me atordoar com inseguranças.

O tempo dentro daquelas caixas parecia não passar, sentia o suor escorrendo, mesmo sendo uma noite fria, o balançar ritmado era nossa única companhia além das frutas. Poupando energia preferimos o silencio depois da nossa breve conversa muita coisa estava acontecendo, muitas regras quebradas, a vida de Ítalo em nossas mãos, não haveria margem para falhas.

Temendo essa linha de raciocínio preferi repassar o plano novamente na cabeça pela segunda vez desde que tudo começou, a próxima etapa seria sair da caixa, eu não fazia ideia de como funcionava o outro lado, mas podia supor que haveriam soldados, igual aqueles que tínhamos acabados de passar, com capacetes e um rosto... Afastei essa imagem o mais rápido que pude da mente.

O som das roldanas enferrujadas começava a soar mais audível. Provavelmente estávamos chegando a Dalta, o reino desmembrado de Nimalgia. Passei o que fazer rapidamente para Ícaro ao mesmo tempo em que o balançar cessava.

-E se der errado? – Ele sussurrou.

- Você continua sem mim.

Ele franziu o cenho, percebi que não iria me contestar, por várias vezes ele sempre assumia a frente, agora me deixava a pleno comando.

Lá fora ouvia passos, havia pelo menos três soldados andando por ali. Alguma coisa foi presa a ela que nos fez descer, era quase como se estivéssemos em um elevador, podia sentir embora não visse nada.

A escuridão ainda nos atingia até quando a porta se abriu, nós encolhemos nos fundos enquanto alguém entrava observando a carga.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora