Capítulo 17

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A primeira parte do meu plano já havia cumprido seu papel, mas ainda me restava o outro problema, gigante e peludo, que nesse momento nada contente pulava nos galhos da árvore tentando me alcançar, com os dentes preste a me transformar em picadinho.

Sem tempo para comemorar minha pequena vitória, empunhei a espada, era hora de ver para o que aqueles treinos me seriam uteis. Vendo a lamina afiada na minha frente, pedi desculpas mentalmente a Seline a cortei o vestido que ela me emprestara, tirei o casaco deixando-o na árvore, segurei o tecido que cortara e amarrei na alça da bolsa deixando-a ainda mais comprida, era um improviso, mas assim como na primeira vez eu contava com minhas teorias estarem corretas e com um pouquinho da sorte.

Caminhando pelo tronco me equilibrando razoavelmente consegui achar um ponto mais firme e onde o tal animal pudesse me alcançar com um pouco de esforço, peguei a bolsa pela nova alça improvisada e girei no ar ganhando energia e cada vez mais velocidade, as pedras ali dentro batiam umas nas outras.

Era agora ou nunca!

O animal se afastou um pouco e tomou novamente o impulso que necessitava. Exatamente o que estava esperando, ele se aproximou de mim, sua boca aberta prestes a abocanhar minha perna, eram segundos decisivos, girei a bolsa pela última vez sentindo as batidas do meu coração freneticamente, no exato momento soltei-a com toda a nova força que dispunha atingindo de forma descomunal o animal lá em baixo, o jogando a metros de distância atordoado.

O que não contava era que o peso da bolsa também teria efeito em mim, me lançando para frente e caindo rolando pela valeta. Gritei pelo susto e me arrependi na hora, isso atrairia outros até mim, tirando a espada da cintura novamente a cravei fundo na terra impedindo de cair totalmente no rio. Sentia a água preenchendo até minha cintura, arrastando meu corpo para o lado. Cravei minha mão no barranco, sentia a terra perfurando os dedos, quebrando os resquícios de unha que tinha, com isso me estabilizei e consegui atingir o fundo do rio, impulsionando para cima e meus braços berrando de dor, com o suporte consegui sair da água, me escorando em uma pedra ao fundo da valeta, mas ainda havia o problema que voltava a recobrar a consciência, ouvia sua respiração e seus passos se aproximando, encolhi ainda mais tentando me ocultar de suas vistas. Eu sentia ele bem acima de mim vasculhando por tudo, seus olhos não podiam me encontrar, mas seu faro sim!

Tirei a espada da terra, me doeria muito fazer aquilo, mas estava ficando sem escolhas, se eu não tivesse sido tão impulsiva talvez nada disso estivesse acontecendo, me afastei ficando assim na sua linha de visão que levou menos de um segundo para me localizar, sem pensar duas vezes sua bocarra se abriu e novamente o estrondo ecoou, tive a ligeira impressão que as nuvens acima de nós também tremeluziram. Feroz e letal ele pulou para cair em cima de mim, rapidamente ergui a espada com sua lamina afiada o atingindo antes que pudesse grudar suas patas em mim, por instinto os olhos se fecharam, e as pernas vacilaram, eu me odiaria pelo resto da vida por isso, o gigante animal perdeu as forças e caiu rolando ao meu lado atingindo as águas do rio, era tarde demais para remorsos, eu não queria ver ou saber quais foram os estragos que causei, na minha mente tentei me convencer de que tudo era uma grande ilusão e ninguém havia sido ferido, torci com todas as minhas forças para isso.

Não tive muito tempo de me recuperar e consegui chegar ao topo ainda cambaleante quando ouvi novamente som de passos, eu já não tinha mais armas na manga, teria que usar o rio novamente a meu favor. Empunhei a espada, tremendo de frio, com o vestido cortado todo irregular na altura dos joelhos e molhada pelo menos até a cintura, o vento frio congelava assim como a nevoa que crescia cada vez mais em volta da floresta. Se houvesse mais algum combate desse eu tinha certeza que não sairia viva, não conseguia nem ao menos sentir minhas pernas, a única esperança era que dessa vez os passos eram mais leves, embora ritmados e em maiores quantidades, seguiam onde eu estava. Se fosse para morrer que fosse lutando!

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora