Reino Amaldiçoado

Capítulo 29

-Eu disse para não bater – sussurrei para Ícaro enquanto fechava a porta.

-Não, você disse para eu não bater na porta – Ele trazia uma espada em cada cintura e uma adaga presa na lateral do corpo. Seus cabelos estavam presos totalmente para trás e nas mãos trazia uma coisa preta um pouco sem forma no escuro, que ele jogou para mim – Tome, achei que fosse precisar.

Tentando manter o equilíbrio de tudo levei alguns segundos para notar a abertura na parte de cima do tecido, era uma bolsa! Coloquei a comida e o livro lá dentro e passei a capa para ele vestir, colocando a minha também.

-Agora vai me contar qual é o plano?

-No caminho, vamos, antes que clareie o dia.

Comecei a andar, mas ele me segurou pelo braço me impedindo de prosseguir.

-Em Dalta as coisas não serão mais treinamentos, te matarão se tiverem a chance, então tome cuidado – Retirando de uma tira de couro que cruzava seu peito percebi que aquilo nada mais era do que a alça de uma bolsa comprida, abrindo-a com uma agilidade impressionante ele retirou de lá uma lamina, novinha, afiada, letal – É sua nessa jornada.

Aceitando sua oferta a peguei na mão, era a espada mais linda que eu já havia visto, leve e de fácil manuseio, prendi a respiração, era impressionante, sua lamina reluzia, afiada, letal. Eu me daria muito bem com ela, ou pelo menos esperava que sim.

-Obrigada! – Se estivéssemos na Terra diria que esse era o presente mais estranho que uma garota já havia ganhado, mas tinha que admitir aqui é Nimalgia, e muito além da utilidade eu me sentia mais forte com ela. -Temos que chegar a torre da divisa antes do dia clarear e sem que ninguém nos veja.

-Porque eu tinha certeza que você me levaria para lá? – Começamos a correr para a trilha que levava onde eu queria, rápido e com passos leves, produzindo o menor barulho possível – Desde o dia em que você a viu ficou intrigada com o lugar. Por favor, só não me diga que você vai imitar o tal do Mito de Ícaro e voar!

Tentei segurar a risada, eu estava nervosa, o coração disparado, um riso agora seria algo patético e histérico.

-Não vamos imitar o Mito, se é o que te preocupa.

Entramos na trilha em poucos minutos, conforme nos aproximávamos fui guiando Ícaro para cada vez mais dentro do caminho da vegetação tentando nos ocultar. Quando a Torre já estava bem visível nos escondemos atrás de uma pedra, pelos poucos raios que emitiam do céu de Dalta era possível identificar os vultos onde os soldados estavam. Dois próximos a entrada, mais dois no outro extremo, um bem na nossa direção e outro em cima.

-Tá e agora, como vamos passar?

-Por esse de baixo aqui é fácil, o problema vai ser o de cima. – Disse sussurrando para ele– Vamos precisar de uma isca viva.

-Uma isca o que?!

-Isca viva, alguém vai distrair eles para um lado enquanto deixa o outro livre.