Capítulo 9

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Os raios de sol refletiam nas espadas completamente polidas, que irradiava para todo lugar, vários meninos, mais ou menos na minha idade, duelavam entre si, em uma perfeita sincronia de pês e braços. 

O barulho ficava ritmado e a dança da luta começava a ficar frenética. Era tudo tão coordenado que por um segundo esqueci-me da tamanha letalidade daquilo, eles eram precisos nos golpes, atacavam e defendiam sem serem feridos e a uma velocidade incrível. 

-Não há mortes. 

Uma voz atrás de mim me tirou do estupor que estava, virei-me para Ícaro, e mais um deslumbramento me tomou conta, a luz do sol também incidia nos seus olhos azuis como o mar e ele parecia ainda mais bonito do que costumava ser. 

 -O que não há mortes?

 -As lutas – ele apontou com a cabeça atrás de mim onde tudo desenrolava – Não importa o que estamos treinando, nada é instruído a ser mortal. 

 Eu olhei de volta para toda a cena, parecia cômica que há um dia visse isso apenas pela tv com atores bem ensaiados, na vida real a coisa parecia ser bem mais séria do que deixava transparecer. 

 -E eu tenho que aprender a lutar só porque quebrei uma colher?

 Voltei a encara-lo e notei um misto de tristeza varrer seu rosto enquanto me olhava, mas tão logo veio sumiu, assim como sempre acontecia com ele. 

-A maioria de nós estaria feliz se viesse parar aqui só porque quebrou uma colher.

 Eu olhei a minha volta imaginando o que levaria um garoto ainda tão jovem e escolher esse caminho, quando a conversa ontem com Seline me veio à cabeça.

 -A maldição! 

-Então você já ouviu falar. –Não era uma pergunta.

 -Seline me contou algumas coisas ontem à noite. Ela disse sobre a maldição que leva jovens que não conseguem completar esse processo.

 -Há mais de duzentos anos – ele disse agora olhando para o horizonte –Convivemos com esse espetáculo de horror sem poder fazer nada, estamos sempre de mãos atadas –Seus punhos se fecharam e todo a tensão comandou o corpo, seus olhos se cerraram e eu temi o inferno que ele deveria estar vivendo ver todas aquelas pessoas e não saber quem delas sobreviveria para ver o amanhã.

 -Eles acham que eu sou uma dos escolhidos, então todos os outros...- disse praticamente inaudível olhando em volta para a multidão.

 Eu estava tão nervosa, exausta e com medo de tudo que não associe  que o treinamento que Cirino me enviou era só para "os escolhidos".Olhei para a postura de Ícaro ainda tensa e vi a espada acoplada na sua cintura e então algo me chamou a atenção, o ódio de Ícaro não era só por seus colegas, era por si mesmo também, ele provavelmente não estava ali de livre espontânea vontade, era obrigado a entrar no treinamento por ser um dos atingidos pela maldição.

 Um nó se fechou na minha garganta eu achei difícil até respirar. Estendi minha mão e apertei seu ombro em um consolo, isso o trouxe de volta, seus olhos se abriram e me encararam em espanto, suas mãos relaxaram, mas seu corpo ainda continuava tenso. 

 -Eu sinto muito. –Minha voz saiu quase como um lamento deixando visível toda a magoa que eu estava sentindo, não sabia explicar o que me motivou a fazer isso, a emoção talvez. 

Como se tivesse levado um soco no estomago ele tirou minha mão do seu ombro, suas feições voltaram a endurecer, perdendo aquele milésimo de contado que tivemos.

 -Não sinta, estamos todos no mesmo caminho. –Ele disse rude enquanto dava as costas para mim seguindo para dentro da tenda novamente.

Eu o acompanhei já que não sabia mais para onde ir, passamos por um grupo de lutadores se encaminhando para o duelo, alguns nos encaravam quando passávamos, outros mostravam indiferença, notei imediatamente que o clima ali era bem carregado, levavam o psicológico ao limite. Estava tudo errado. 

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora