Capítulo 34

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Meus pensamentos ficaram nebulosos com isso, as respostas para muitas coisas estariam aqui, e principalmente minha volta para casa. Ele saberia quem eu era?

Tudo desapareceu quando eu dei trombada com Ícaro que parara inesperadamente.

-O que foi?

-Acabaram as escadas, mas não consigo definir nada da onde estamos.

-A torre deve ser por andar, devemos ter subido pelo menos mais um. – disse, parecendo tola pela obviedade da frase.

-A sala do trono fica no penúltimo, se for similar à de Defel então devemos estar.. próximo. – ele disse – mas com essa escuridão...é como se não houvesse vida aqui, já percorremos uma boa parte e simplesmente nada!

Ícaro tinha razão, não havia pessoas ali dentro, não havia barulho de passos, não havia vida. Mas eu sabia que não estávamos sozinhos, se meus pensamentos estivessem certos...

- Não tenho mais certeza se vamos conseguir encontrar Onor, quem dirá o maldito selo da união.

Mesmo resignado continuou a andar me puxando pela mão, tateando pelas paredes conforme podíamos. Atingimos um corredor não muito distante, onde altas janelas conseguiam iluminar parcamente, com o pouco que captavam lá fora. O caminho era negro, o chão do tom mais escuro que poderia imaginar, havia portas e mais portas por onde andávamos o que nos dava a sensação de ser em grandes círculos, seguindo o formato da torre.

E conforme avançávamos mais eu podia sentir o peso do ambiente sobre mim, era muito mais denso do que antes, só por isso eu conseguiria saber que as portas ao nosso lado há lugar nenhum levaria, o caminho estava ainda à minha frente, se estendendo a lugares que não conseguíamos enxergar. Ícaro sabia tanto quanto eu que poderíamos, muito bem, estar caminhando para uma armadilha ou para o confronto final, seu aperto em minha mão ficou mais firme bem como a postura de pronto para o combate a qualquer hora.

- Nós vamos conseguir! - Disse apertando mais ainda sua mão – Pelo seu irmão, por você, por mim, por todos que já sofreram e sofrem com tudo isso!

Ele não me respondeu palavras não seriam necessárias, nós tínhamos noção do peso de tudo que estávamos fazendo, desde muito antes do começo de sua rebeldia isso já estava nele, podia não o ter conhecido desde sempre, no entanto, o conhecia agora, e podia prever isso, tudo feito até hoje resultou no agora, no caminho que trilhamos nesse momento e que era totalmente incerto.

Adentramos em um salão, as portas estavam totalmente abertas, dando continuidade ao corredor. Era gigante, mas sem janelas, assim como o desfalque das mobílias, apenas 3 saídas laterais, complementavam o cenário inóspito, era impossível de imaginar que alguém morasse ali...não havia nada!

-Você acha que ?

-Sim – eu disse antes mesmo que ele completasse a pergunta.

Minha mão foi para a espada acoplada em minha cintura, podia sentir o bater do meu coração, enquanto andávamos para gigante porta lateral, a única fechada.

-Lembre-se de tudo o que ensinei a você, nunca o subestime, Onor pode estar velho, mas ainda é poderoso e não vai ter piedade nem que...

O ar denso triplicou, trazendo as coisas mais negativas possíveis. A voz, rasgada, rouca, quase distorcida, tudo completava a tenebrosa criatura atrás de nós,

-Assim eu posso me ofender! Invadem minhas terras, minha Torre e ainda me calunia! De velho! – nós viramos empunhando as espadas, soldados formavam um arco por todo o recinto, surgindo assim como pó, sem fazer o menor barulho, e ao centro a criatura, todo de preto, dos pés à cabeça, alto, provavelmente a maior pessoa que já havia visto por essas terras, os olhos fundos contrastava com o sorriso diabólico no rosto, a pele muito plácida, sofria para se manter no lugar. – Ainda não me decidi se chamo vocês de corajosos ou de pobres crianças.

Ele riu, sem haver humor algum, uma risada fria, que chegava até os ossos.

 – Pouco importa como queira nós chamar.- Cuspi as palavras na direção dele.

Seu sorriso pareceu oscilar um pouco, enquanto os profundos olhos me perfuravam com tamanha concentração.

-Realmente gostaria de dizer que sinto muito por você, jovenzinha Mundana, mas a sua presença aqui ainda põem em risco muitas coisas da quais eu prezo. Deveria ter ficado em seu Reino! – Seu rosto se fechou em puro ódio –Mas já que está aqui...

Seus olhos pretejaram por completo, tornando tudo uma coisa só. Onor já não era mais um ser normal, sua maldade o destruiu mais do que pudéssemos deduzir.

Os soldados todos uniformizados de preto e vermelho, eram iguais ao que ficavam na fronteira, pessoas que já não eram mais pessoas. Destruídos por tudo de ruim que havia dentro dele.

Com um simples gesto de mão de Onor, eles avançaram para cima de nós, Ícaro já partia para o confronto com dois a sua frente enquanto a minha volta era cercada por quatro de uma vez. Todas as espadas estavam em punhos, a matemática me deixava em desvantagem, eu não podia me dar por vencida, muitas pessoas estavam em jogo.

No momento que minha espada atingiu a do soldado mais forte, senti meu braço tremular com o impacto, firmei meus pés no chão da melhor forma que pude, enquanto vinham mais dois ataques diferentes em mim, desviei do primeiro e consegui atingi-lo no braço esquerdo.

Aos meus pés liquido preto escorria vindo dos dois soldados abatidos por Ícaro, que ao meu socorro empurrou o quarto soltado com a espada cravando-a onde deveria estar o coração. O tempo de distração foi perfeito para que pudesse atingir mais um na barriga, fazendo cair aos meus pés.

Por mais que os eliminássemos ainda assim havia mais cinco deles no fechando em um círculo.

-Não é isso que precisamos! – Ícaro disse tenso de costas para mim –perdendo tempo.

-Ele fugiu por aquela porta – Indiquei para uma das gigantes saídas da sala - Onde acha que o selo da união pode estar?

Neste momento uma investida foi feita e tanto Ícaro quando o soldado voltava com cortes nos braços.

-Provavelmente perto, é o local mais protegido. – Ele respirou fundo ante a dor do corte – Acha que consegue lidar aqui para que possa ir atrás dele?

A gigante porta pela qual ele havia passado minutos antes, ainda transbordava de uma carga pesada fazendo toda a raiva que sentia por ele transbordar e eu sabia que embora Ícaro quisesse não poderia permitir isso.

De repente a espada em minha mão ficou leve, o peso era imperceptível perto do que seria capaz, girei-a com um braço só, confundindo e lançando-a direto no pescoço de um dos soldados, sangue negro escorreu sobre mim e por todo o lado. Eu não me importei! Não me importava mais!

-Eu vou – disse para Ícaro dando outra investida atingindo agora uma costela – Você termina aqui!

Assim que disse isso aproveitei o vão que se abriu no nosso pequeno cerco e corri atrás do assassino que eu mais desprezava em minha vida. Torcendo para poder ver Ícaro novamente.

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora