Capítulo 27

4 1 0
                                    

Assim que virei a última rua, fui ajudada pela iluminação da casa da família de Ícaro que estava com as janelas e portas abertas e algumas pessoas sentadas em volta em silencio, meus passos chamaram a atenção deles que me observavam correr.

Não reconheci nenhum dos rostos que estavam ali, exceto Cau que dormia em um sono agitado encostado ao lado de uma mulher que pendia dos seus ombros uma manta. Acenei para as pessoas de volta sem ter muita certeza do que esperar, seus semblantes estavam tensos, ninguém falava com ninguém, como se a menor pronuncia pudesse quebrar as forças que lhes restavam. Senti minhas pernas ameaçarem falhar, respirei fundo, agora não era o momento para isso, Stela! Na pequena casa que Ícaro e sua família viviam, era muito parecida com a de Seline e Kael, a diferença ficava mesmo em algumas decorações.

A mãe dos meninos estava sentada no sofá com uma xicara na mão, tão tremula que fazia com que algumas gotículas do conteúdo caíssem para fora, no momento em que me viu ela se levantou, caminhando até mim e me puxando para um abraço, tão apertado quanto aqueles que Seline me dava, só que esse não era cheio de alegria como os dela, essa me dizia muitas coisas. Coisas que eu recusava.

-Obrigada – sua voz estava embargada próxima ao meu ouvido, em resposta apertei ainda mais o abraço, logo me libertando – No final do corredor à esquerda.

Ela apontou para uma porta ao meu lado, ainda um pouco incerta caminhei a passos trêmulos até lá. O percurso não era grande, mas naquele momento, onde tudo passa diante dos seus olhos, pareceu uma eternidade percorre-lo.

A última porta a esquerda estava entreaberta, a empurrei lentamente, fazendo um leve ruído. Através de algumas luzes de velas na cabeceira pude distinguir o pai de Ícaro sentado ao lado do filho.

-Estrelinha! Você veio, sabia que viria. –Deitado na cama, Ítalo estava mais pálido do que nunca, totalmente diferente quando o vi mais cedo após o fim da luta – Você não resistiria a me ver, não é? – Disse se esforçando para sorrir.

-Ítalo, por favor, não brinque dessa forma – Seu pai o repreendeu, acenando para que eu entrasse no quarto. – Queira me desculpar, meu filho não toma juízo nem neste momento.

Através da parca iluminação pude ver seus olhos embargados e o quanto lutava para parecer forte na frente do filho. Coloquei uma mão em seu ombro tentando solidarizar com sua dor.

-Está tudo bem, não seria o Ítalo sem essas piadinhas – Sorri para o Sr. Engraçadinho na cama que me retribuiu.

Um silencio caiu no quarto, não sabia muito bem o que mais dizer, eu simplesmente não acreditava nisso, era irreal demais para mim. Durante todo o percurso imaginei Ícaro nessa situação, e agora sabendo que é o seu irmão, não me sinto nem um pouco melhor. Ítalo não merece esse destino. Ícaro não merece isso. Ninguém merece!

Pigarreando um pouco para atrair nossa atenção, notei nos olhos dele que aquilo não o assustava, mesmo pálido e debilitado ainda havia aquele tom zombeteiro tão característico.

-Pai, será que poderia nós deixar a sós uns minutos?

Reino AmaldiçoadoOnde histórias criam vida. Descubra agora