Fumaça densa

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Depois de beber seu conteúdo, Valerie jogou o frasco em um canto da sala.
Agora soltava uma densa fumaça que se arrastava pelo carpete, passava pelas bizarras pernas da cama e tocava o corpo da moça onde ela jazia imóvel ao lado da janela gótica. Rastejava sobre ela, e quanto mais denso se tornava, menos distinta se tornava a figura da menina prostrada.
O missionário estava sentado em sua cela e cabisbaixo. Suas mãos agarraram a mesa como se fossem amassá-la como papel. Aquele “Amém” ainda soava em seus ouvidos e ele estava com medo de levantar a cabeça para não ver o homem que o havia proferido.
Enquanto ele se sentava lá com seu horror, sem pensar nem rezar, parecia que ele ouviu o clique da maçaneta da porta ao lado. Ele olhou aterrorizado para a porta e por um momento seu coração parou de bater. A porta se abriu lentamente e uma sombra penetrou no quarto. No entanto, não era uma sombra, mas uma névoa, ainda mais precisa, uma larga e alta coluna de fumaça.
“Misericórdia”, gritou o missionário e caiu de joelhos.
A fumaça flutuava preguiçosamente pela sala e, tendo completado um circuito, partiu por onde veio.
Isso horrorizou o missionário mais do que se algum vingador tivesse vindo e o forçado a olhar para o cano de um rifle.
À beira do desespero, ele disse “misericórdia” mais uma vez e começou a recitar seu breviário.

Valerie e a Semana das Maravilhas (Tradução)✓Onde histórias criam vida. Descubra agora