A ruína

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Duas figuras moveram-se na direção do porão, arrastando uma carga. Valerie estava vestida agora. Seus olhos se estreitaram de terror enquanto, com toda a força de que dispunha, ela ajudava Orlík a carregar o corpo do homem enforcado.
“Não podemos enterrá-lo lá embaixo assim.”
“Há uma tumba de verdade lá. Você vai ver”, respondeu o menino.
“Como vamos sair do porão para o cofre?”
"É muito fácil."
Orlík colocou o corpo em um canto do porão e começou a bater na parede.
"O caminho é aqui em algum lugar", disse ele, tentando tirar um tijolo. Assim que cedeu, foi brincadeira de criança deslocar parte da parede e ter acesso ao cofre.
"Você está exausta, eu mesmo o levo."
“Acho que vou desmaiar.”
“Desça comigo”, disse Orlík, assim que conseguiu arrastar o corpo para baixo.
"Acredito que estamos bem perto da sala abobadada para a qual fui atraído ontem à noite."
“Sim, mas estamos do outro lado do cofre.”
“Estou com medo”, disse a garota.
“É bastante assustador. Acender a vela."
“Essa é a vela que ele usou para entrar no meu quarto. Minhas mãos estão tremendo e não consigo acender."
Orlík pegou o castiçal. Em pouco tempo, a pequena chama revelou à garota assustada uma visão horrível: caixões alinhados ao longo da parede da abóbada.  Muitos caixões. Ela fechou os olhos.
"Seja corajosa."
"Onde estamos?"
“Ainda perto de sua casa.”
“É um cemitério.”
“Um cemitério muito antigo. Mais um cemitério, se escolhermos nossas palavras."
“Quem está enterrado aqui?”
"Você verá em um momento."
Sem esforço, Orlík abriu um dos caixões.  Valerie se viu olhando para centenas e milhares de minúsculos ossos brancos.
"Poupe-me do horror", ela soluçou.
“Espero que você não tenha mais dúvidas sobre o que é isso.”
“Não, não tenho coragem de pensar nada.”
“Estes são os ossos de todas as galinhas cujo sangue ele sugou.”
"Vamos indo."
"Um momento. Apenas deixe-me enterrar este pecador”.
“O que estamos fazendo é errado.”
“Um pouco mais à direita está uma cripta.  Tudo o que temos a fazer é levantar a tampa de pedra e o corpo será enterrado”.
“As pessoas também estão enterradas aqui?”
“Não quero assustá-la, mas se você fosse um pouco mais corajosa, veria várias vítimas humanas.”
“Não, não, não quero ver.”
“Fique aqui então. Eu mesmo enterrarei o padre."
“Por que você me iniciou nesses segredos? Nunca poderei dormir em paz nesta casa."
Orlík ergueu o cadáver e o arrastou pelo cofre. Horrorizada, Valerie observou as sombras projetadas pela chama da vela.
“Eu me pergunto o que a vovó vai dizer quando perceber que seu convidado desapareceu”, pensou ela.
Orlík estava voltando. Parecendo exausto, ele disse:
“Agora eu gostaria de ir para a cama.”
Eles voltaram para o porão. Em seguida, eles recolocaram os tijolos no buraco que levava ao cofre.
Subiram silenciosamente a escada por onde desaparecera o horrendo fantasma do missionário.
"Cuidado. Estaremos passando pela porta da vovó. Ela tem sono leve e não quero acordá-la."
“Meu quarto fica no sótão?” Orlik perguntou.
“Sim, subindo as escadas.”
Amanheceu. Valerie teve sua primeira visão do rosto de Orlík na primeira luz do dia. Ele estava tão exausto que suas pálpebras estavam caídas com o peso do sono.
“Aqui estamos,” disse Valerie, abrindo a porta do quarto de hóspedes.
Mas qual não foi sua surpresa quando uma garota de beleza requintada se apresentou para conhecê-la.

Valerie e a Semana das Maravilhas (Tradução)✓Onde histórias criam vida. Descubra agora