Rendidos

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Oto havia saído do apartamento de Moretti e alugado um flat, como fazia em Portugal. Não queria ficar muito tempo em um lugar onde ele poderia encontrá-lo a qualquer momento. Mas não tinha ido muito longe: permaneceu no mesmo bairro, pois podia se exercitar nas margens da lagoa. Era uma forma de fazer passar o tempo. Lembrava que Brisa havia gostado dali. 

Fazia uma semana que ela tinha voltado para Mandacaru. Embora trocassem mensagens todos os dias, estava sentindo saudade dela. Muita saudade. Tanto que poderia facilmente afirmar que isso lhe causava sintomas físicos. 

Estava deitado na cama pensando nela, neles, nele. No quanto não se reconhecia mais desde o dia em que se encontraram de forma tão inusitada. Se fosse honesto com ele mesmo, desde o dia em que a viu na praça em São Luís dançando. Não acreditava no acaso. Toda vez que repassava aquela história tinha ainda mais certeza de que precisava de Brisa em sua vida. E estava disposto a tudo para isso, mesmo que tivesse que arriscar muita coisa.

Era estranho pensar que sempre foi prático, obstinado e desapegado nas mesmas proporções e que isso fazia com que ele não insistisse em nada que exigisse muito tempo e dedicação sem garantias de que daria certo. Se nem no trabalho fazia questão de persistir em projetos com muitos obstáculos, nos relacionamentos pessoais ele não tentava sequer começar. Mas agora era diferente. Ele simplesmente não conseguia deixar Brisa para trás. Tinha perdido o controle sobre seus pensamentos e sentimentos. 

Com o celular na mão, já havia ensaiado inúmera vezes ligar para ela. No momento em que o celular tocou, seu coração chegou a disparar quando, por frações de segundo, pensou que poderia ser ela. Mas era Moretti. A última pessoa com quem ele queria falar na face da Terra. 

Oto: Fala, Moretti.

Moretti: Bom dia, flor do dia! Trago ótimas notícias.

Oto: Diga.

Moretti: Saiu o resultado da licitação. Ganhamos!

Oto: Ótimo. E agora?

Moretti: Ótimo? Só isso que você diz depois do golpe de mestre que demos? É fantástico! Enfim, nossos parceiros querem que você vá orientar o briefing do pré-projeto técnico que será apresentado às instituições. 

Oto: Onde e quando? 

Moretti: São Luís, na sede. Amanhã, 10h. Não se atrase. Liga pro Edu e combina tudo.

Oto: Você vai?

Moretti: Não, tenho reuniões com alguns possíveis patrocinadores.

Novamente o destino decidia seu caminho. Estava indo para perto de Brisa. Dessa vez, nem precisaria pegar o avião escondido. Não podia perder essa chance.

Tomou coragem e ligou para Brisa. Três toques e ouviu a voz dela.

Oto: Brisa....Como estão as coisas por aí?

Brisa: Oi, Oto. Tudo se ajeitando aos poucos. E você?

Oto: Brisa...pode ligar o vídeo? Vamos falar por vídeo. Tenho um convite pra te fazer.

Quando Brisa apareceu na tela, Oto se esqueceu até de continuar a falar. Estava admirando seu rosto, tentando matar a saudade que sentia, e esqueceu de todo o resto. 

Brisa: Oto? Tá me ouvindo?

Oto: Tô, to sim, Brisa. Então, eu queria te dizer que... Eu tenho uma reunião de trabalho amanhã em São Luís. Quero te ver.

Brisa: Amanhã em São Luís? Não sei, eu ...

Oto: Eu posso ir até você, em Mandacaru.

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