Amar

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Tonho abriu um espontâneo sorriso, com a inocência de não conseguir compreender o que estava acontecendo naquele momento. Correu na direção da mãe como faria em qualquer situação após ter ficado algum tempo sem vê-la. Brisa, de joelhos, abraçou apertado o filho, desejando nunca mais ter que soltá-lo de seus braços. Oto os observava de pé, atrás de Brisa. As lágrimas, de alívio e felicidade, escorriam pesadas pelos cantos dos olhos. Abaixou abraçando os dois. 

Os três ficaram entrelaçados naquele abraço desapressado que desafiava o caos ao redor.

- Obrigada, meu São Benedito, obrigada! - Brisa agradecia baixinho.

Os policiais deram voz de prisão a Ari. Começavam a se movimentar para levá-lo, quando Oto se levantou. Seus olhos se elevaram lentamente até encontrar o rosto de Ari o encarando. Não era raiva que identificava na expressão dele. Mas tinha certeza de que era algo muito pior. Se tivesse o poder, Ari estaria o amaldiçoando pela eternidade naquele momento. 

Em silêncio, Oto abaixou e pegou Tonho no colo. Colocou a mão por trás da cabeça dele, pressionando-a em seu pescoço. Acariciava os cabelos dele para desviar sua atenção. Queria evitar que Tonho visse aquela cena de Ari sendo conduzido pelos policiais.  

Núbia chorava e tentava convencer os policiais a não levar seu filho, mas foi advertida de que ela também seria conduzida à delegacia por ter participado do sequestro. Os dois desceram acompanhados pelos policiais pelo elevador. O delegado avisou Brisa de que precisaria ir até a delegacia, para acompanhar as investigações. Oto, Brisa, Wesley e Tonho permaneceram no corredor, aguardando que eles estivessem longe para saírem dali. 

No carro, Brisa foi atrás abraçada com Tonho. O menino contava animado o filme que tinha assistido naquela manhã. Ela sentia um estranho conforto em notar que ele não tinha noção do que o próprio pai havia feito. Passaram em casa para deixá-lo com Tininha e Wesley, enquanto seguiam para a delegacia. 

Brisa e Oto aguardavam em uma sala vazia da delegacia, enquanto o delegado interrogava Ari e Núbia.  De pé, Brisa olhava para as paredes, pensativa a angustiada, encostada no peito de Oto. 

- Essa urubua... - Disse repentinamente, quebrando o silêncio. - Acredita que ela teve a pachorra de ir lá em casa me acusar de ser responsável pelo sumiço de Tonho? E quando eu expulsei ela de lá, ainda me ameaçou dizendo que ia fazer um inferno na minha vida se algo tivesse acontecido com ele. E ela participando disso, sabendo muito bem onde que o Tonho estava. Como pode? 

- Agora ela está tendo o que merece. Ela e o filho. - Oto ponderou.

- Ainda é muito pouco. Mas pelo menos ela tá começando a pagar pelo que fez comigo lá em São Luís também. Eu sabia que meu São Benedito não ia deixar essa injustiça passar assim. Tudo no tempo certo. Essa daí nunca suportou me ver feliz. Eu achava que era só porque ela não gostava que eu estivesse com o filho dela. Mas nem agora, casada com você, ela me deixa em paz. 

- Tanto mãe quanto filho na verdade gostavam de ter você sempre por perto fazendo de tudo por eles, sem precisar reconhecer nada. 

- É...Me dá uma raiva quando eu penso em todos os anos que eu desperdicei da minha vida com eles! - Afirmou cerrando o punho no ar.

- Pensa que foi necessário para você ter o Tonho. E agora você tá livre deles.

Brisa sorriu para Oto, com a expressão reflexiva. 

- Oto. Eu queria te falar que eu vou pedir ao delegado para falar com o Ari, assim que ele for para a cela. Eu preciso. Tá?

Oto assentiu com a cabeça, compreensivo.

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