Encanto

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Oto abriu os olhos e a primeira visão que teve foi dos cabelos de Brisa logo abaixo de seu queixo. Sentiu o peso do corpo dela sobre seu braço e as pernas entrelaçadas às suas. A respiração dela parecia acompanhar o vento que entrava pela janela naquela manhã de primavera.

Era a primeira vez que acordava no quarto de sua casa com Brisa. Que o mundo se acabasse do lado de fora, a última coisa que queria era sair daquele momento. Voltou a fechar os olhos, apreciando a sensação de estar ali.

Brisa se movimentou em seu braço, olhando para cima. Encontrou os olhos de Oto tornando a abrir. Sorriram sincronizados.

Levantou-se somente o suficiente para alcançar o ombro dela, passando os lábios suavemente por ele. Sua mão deslizava pelo colo minimamente coberto com o fino tecido da camisola. A pele não demorou a anunciar o arrepio do corpo despertando.

Ela dedilhava sua barba com a ponta dos dedos. Seus olhos faziam um pedido em silêncio para ele. Tinha o efeito de uma ordem. Aquela mão tão longa não demorou muito para subir por sua perna, arrastando consigo o tecido rendado que há pouco a cobria, até que não fosse mais uma frágil barreira. Pôde sentir o calor dele se aproximando sobre ela.

Os lábios brigavam para combinar com o ritmo dos corpos em movimentos. As mãos dela tentavam em vão segurar no lençol tão preso à cama. Sussurrava sem dizer nenhuma palavra, em acordo com a calmaria silenciosa daquela manhã. Quis virar o jogo.

Agora era ele que estava sob ela, preso entre suas pernas. Sentia a leve pressão das mãos que deslizavam sobre seu peito. Um sorriso inquieto escapava no rosto dele. Admirava a luz natural brilhando em sua nudez.

Abraçados, realinhavam a respiração sem a pretensão de levantar tão cedo daquele refúgio.

***

Tonho brincava no pequeno quintal quando Oto saiu com a missão de decidir o almoço do dia.

Brisa regava com calma e admiração os girassóis que enfeitavam a mesa. Decidiu avançar na arrumação, não conseguia ficar parada.

No quarto, dobrava algumas toalhas e guardava com zelo nas gavetas. Uma camisa de Oto caiu do cabide. Riu sozinha se dando conta de que agora ela dividia um armário com ele.

Enquanto organizava e reorganizava o que já estava no lugar, deixou a leveza que sentia fluir. Cantava, como há muito tempo não fazia.

Quantos labirintos, tem meu coração
Pra eu me perder, e te encontrar
Quantas avenidas, tem o seu olhar
Pra te seguir, e me guiar
Meu coração me leva
Perto demais do seu
Meu coração nem sabe por que
O meu amor é bem maior que eu
Quem sabe o destino, ainda vai juntar
O céu e o mar, eu e você
Quem de nós um dia, iria imaginar
Que o amor pudesse acontecer

Oto caminhava pelo corredor sem anunciar sua presença. Vinha seguindo a voz dela, como se estivesse sob um encanto. Parou na porta para ouvi-la. De costas, Brisa se entretinha no próprio canto sem notá-lo ali. Somente quando se virou para pegar os brincos que tinha espalhado sobre a cama que viu que ele estava ali, de ouvinte, com os olhos vidrados nela.

- Oto? Você tava aí há muito tempo?

- Que linda! A sua voz...você... - disse entrando no quarto.

Brisa sorria sem jeito.

- Eu nem te ouvi chegar, estava distraída arrumando as coisas...- falava inquieta, ainda sem graça.

Oto se aproximou se inclinando sobre ela e falou olhando em seus olhos, sem que ela pudesse desviar dele:

- Você é linda de tantas maneiras. Te ouvir cantar fez eu me apaixonar mais ainda. Eu nem sabia que isso era possível...

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