Cuidado

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Brisa terminava de fechar as malas. Tinha um sorriso sereno de quem ainda vivia as surpresas que recebeu naquela manhã. O olhar desviava involuntariamente para o buquê majestoso no vaso improvisado em cima da mesa. Oto falava ao celular. 

- Então, vamos?

- Tudo pronto aqui. Essa era a última mala.

- No caminho para o aeroporto, vou fazer uma parada e passar lá na empresa. Quero que você conheça. Eu acho importante você ter uma noção das minhas coisas, do trabalho.

Brisa fez um expressão confusa entre o interesse e a preocupação.

- Mas não tem chance de a gente encontrar com o...

- Eu tava falando com a Lívia, a secretária. Fui me certificar disso. Ela me disse que o Moretti já voltou para o Brasil. O ambiente tá livre da presença dele. 

- Ah, então tá bom. Vamos! - Sorria animada.

Oto pegou as malas e se adiantou até a porta, enquanto Brisa pegava cuidadosamente seu buquê. Saíram sorridentes e leves do quarto.

***

Entraram na recepção e Lívia prontamente se levantou para ir ao encontro deles.

- Olá! Sejam bem-vindos!

- Oi, Lívia! Tudo bom? Deixa eu te apresentar: essa é a Brisa, minha esposa.

- Prazer, Brisa. 

- Sou Lívia. Fico feliz de finalmente conhecer a senhora.

- Não precisa chamar de senhora, não. Pode chamar de Brisa mesmo.

- Tá certo: Brisa! Eu já deixei um cafezinho pronto esperando vocês.

Oto mostrou para ela todos os espaços e pararam na sala em que costumava trabalhar.

- Eu ficava mais aqui, quando vinha para cá.  Mas eu geralmente trabalhava à distância. Eu nunca gostei muito de ficar na companhia do Moretti. 

- Trabalhava de casa? E onde você morava?

- Eu ficava em flats diferentes. Trocava com frequência.

- Você sempre morou em flats?

- É... - Deu um sorriso sem jeito. - Para mim era mais prático. Eu andava muito por aí e era sozinho. Não fazia muito sentido manter uma casa aqui. Quando eu queria mudar, era só sair. 

- Então nossa casa lá na Vila foi a primeira que você teve? - Tinha uma expressão de espanto.

- Foi. Meu primeiro lar.

- E você era feliz? Gostava de viver assim?

- Eu achava que era, minimamente. Pelo menos em comparação com a vida que eu tinha no Brasil, antes de vir morar aqui, era mais feliz. Eu me sentia livre. Quando você não tem nenhum vínculo, nenhum compromisso com ninguém, a liberdade é a única vantagem.

- Você acha que perdeu essa liberdade?

- Eu sou livre. Livre para fazer minhas escolhas. Mas agora eu não penso só em mim. Eu não vou mais acordar um belo dia e sair por aí sem destino certo. Em tudo que eu faço  tenho que considerar a minha família. Eu usei minha liberdade para escolher e eu escolhi você, ficar com você. Para sempre. 

Brisa o abraçou admirando seu rosto. Pensava consigo mesma que sua vida havia mudado radicalmente, mas grande parte das mudanças tinha acontecido sem que tivesse controle. Oto tinha mudado quase tudo em sua vida escolhendo mudar. Naquele momento parecia ter a real dimensão de que era, enfim, a prioridade na vida de alguém. 

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