Brisa e Oto estavam em silêncio no carro. Ela aproveitava o tempo para mandar uma mensagem para Tininha. Não se lembrava de nenhum número de telefone, então as redes sociais eram o meio mais fácil de entrar em contato. Tentou explicar brevemente o que tinha acontecido e dizer que agora estava bem. Guardou o celular em uma pequena bolsa que Oto havia lhe dado junto com as roupas e olhou para ele. Seguia quieto e parecia concentrado no caminho.
- Esse carro é alugado? - perguntou quebrando o silêncio incômodo.
Oto deu uma risada inesperada.
- É da empresa. Pode ficar tranquila, não tem nada irregular dessa vez. Sem riscos. Sem arma no porta-luvas também. - A empresa brasileira com a qual tinham feito parceria para as licitações havia deixado o carro à disposição de Oto.
Brisa riu da forma que sua pergunta tinha soado, mas ficou realmente mais tranquila.
Aproveitou aqueles últimos momentos antes de chegarem ao flat de Ari para apreciar a paisagem do caminho.
- O Rio tem umas paisagens muito bonitas, né?
- É, é muito bonito.
- É diferente. A natureza está muito próxima dos prédios, das ruas. A gente vê a cidade desse lado e, do outro, a areia, esse mar enorme.
- É verdade. É como se dois mundos diferentes coexistissem no mesmo lugar. E se completassem. - Oto respondeu reflexivo. Era a primeira vez, desde que voltou, que ele prestava atenção na cidade que havia deixado para trás há tantos anos.
Ao chegarem ao endereço indicado por Brisa, Oto parou o carro se sentindo pesaroso.
- Tem certeza que é aqui?
- Tenho sim. É esse o endereço.
- Certo. Mas mesmo assim, vou esperar você entrar para ver se está tudo certo.
- Não, não precisa não. Segue seu caminho.
- Tá bom. Mas toma, fica com esse dinheiro, você pode precisar para alguma coisa e...
- Não! Não quero seu dinheiro.
- Fica, Brisa. Só por segurança. Depois você me devolve se não usar.
- Não, não quero. Guarda isso. Eu já cheguei onde tinha que estar. Agora meu noivo me dá tudo que eu precisar. Obrigada. - disse com firmeza e um pouco de irritação.
- Tá bom, tá bom. Mas espera... - Segurou a mão de Brisa antes que ela abrisse a porta para sair. - Aqui tá meu contato. Se você precisar de qualquer coisa, me liga. Qualquer coisa. E me dá notícia, me diz quando você já estiver em casa, com seu filho. Tá?
- Tá. Agora deixa eu ir que já tá tarde. Brisa hesitou em sair por alguns instantes e voltou a olhar para Oto. - Obrigada, viu? Muito obrigada mesmo.
Ela saiu do carro e parou na calçada aguardando que ele fosse embora.
Quando o carro de Oto sumiu de sua vista, olhou para o cartão que ele havia lhe entregado. Era grata a tudo que ele havia feito por ela, mas precisava se distanciar daquela história e voltar para sua vida. Também não queria estar com as informações dele quando encontrasse Ari. De alguma forma, sabia que Oto não queria ser identificado. Sentia que devia isso a ele. Rasgou o cartão e jogou em uma lixeira na rua. Não pretendia voltar a procurar Oto. Pelo menos por um tempo.
Brisa olhou a fachada toda espelhada. Mal conseguia ver o topo de onde estava na calçada, de tão alto que era o prédio. Começava a entender com o que Ari estava tão deslumbrado.
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Dois mundos
Fiksi PenggemarUma órfã de vida simples em Mandacaru, no interior do Maranhão. Criada em meio à natureza e imersa nas tradições do povo que a acolheu. Cantora e dançarina, mas também lavadeira, passadeira, costureira e o que mais fosse necessário na rotina de muit...