Território

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Guerra retornou ao escritório de cara fechada. 

- Acabei de falar com o advogado. O oficial não conseguiu localizar o Moretti. Já estão considerando ele foragido.

De pé, encostado na parede, Oto tinha um semblante resignado.

- É claro que ele conseguiu fugir. Ele certamente tem informante. E eu apostaria no Stênio.

Sentado em uma cadeira, Atílio concordou com o filho:

- Eu pensei nisso também. Ele não pôde assumir o caso do Moretti, mas isso não significa que ele não vá  ajudá-lo por baixo dos panos. Sempre foi muito influente e cheio de contatos. É fácil para ele conseguir esse tipo de informação. 

- Bom, quanto a isso não podemos fazer nada. O fato é que o crápula fugiu. Temos que decidir o que faremos a partir disso. - Guerra falava com nítida irritação na voz. 

- Primeira coisa é reforçar a segurança da Brisa e das crianças.  - Atílio destacou. - A gente não sabe o que o Moretti pode tentar para se vingar. E você também, Oto. Seria bom passar a andar com segurança...

- Não, eu não vou me esconder do Moretti. É melhor que ele tenha meios de chegar a mim. Justamente para não ir atrás da Brisa e das crianças. 

- Mas isso é arriscado. - Atílio insistiu.

- Não importa.  Não vou me esconder dele.

- Bom... Mas ao menos evite lugares que possam facilitar uma armadilha dele. - Atílio tinha um tom hesitante e preocupado na voz, mas sabia que o filho não cederia.

- Eu vou tomar cuidado. - Oto olhou para ele com confiança.

- Eu vou aumentar a equipe de segurança que acompanha o Tonho. Ele é o alvo mais vulnerável, até porque tem o outro estrupício também... - Guerra pontuou.

- Sim. A escola é um ambiente de maior risco para o Tonho agora. - Oto completou.

- Vou reforçar o plano de segurança da Brisa também. Tenho que conversar com a equipe de seguranças que se reveza na guarda dela. - Guerra falava com o olhar perdido, pensativo.

- E enquanto isso a gente tenta descobrir alguma pista do paradeiro dele... - Oto pensava alto.

Guerra se virou repentinamente na direção de Oto.

- Oto... Você conseguiria hackear os computadores dele?

Oto parou com o olhar estático por um instante. Respirava profundamente. 

- Consigo. - respondeu com firmeza. 

- E o Stênio? - Atílio questionou serenamente, após um momento de silêncio na sala.

Oto se virou para o pai. Olhava para ele com uma sutil perplexidade em seu semblante.

- Acho que consigo também.

- Então a gente já sabe por onde começar. - Guerra tinha, enfim, uma expressão sorridente e sarcástica no rosto. 

***

Brisa serviu café para Martina e se sentou ao lado dela na mesa.

- O Oto me disse que foi a senhora que incentivou ele a voltar para casa.

- Foi. Eu tive uma conversa bem...profunda com meu filho. E honesta. Foi bom. Não só porque eu consegui convencê-lo a fazer a coisa certa, mas porque foi a primeira vez, na vida, que tivemos um momento como esse. Sem barreiras, sem ficar na defensiva, rodeando. Eu pude falar para ele muitas coisas que eu queria muito ter dito na hora certa, mas não consegui. 

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