Escolhas e consequências

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Dias de chuva, dias de sol. A primavera avançava em sua missão de preparar os ânimos para os dias ensolarados do verão. Nas manhãs nubladas eram as companhias e as risadas que enchiam de cor as lutas cotidianas particulares. O tempo que afasta e apaga é o mesmo que aproxima e constrói. Laços, memórias, rotinas. 

Um mês havia se passado.

***

Wesley e Brisa conversavam no bar vazio naquele início da manhã. 

- Você tinha me dito que costurava lá em Mandacaru?

- Isso. Costurava, lavava, passava para fora...

- Muito bom! Ainda falta muita coisa para fazer na reforma do espaço, mas a Divina já quer adiantar a parte artística. O cenário, os figurinos. Quando estiver tudo pronto, a gente não vai perder tempo para inaugurar. Daí a gente tá precisando de alguém para fazer as roupas. Você acha que consegue? As roupas são bem trabalhosas, muito brilho, muitos panos,  paetês. - Wesley imitava confetes jogados ao ar. 

- Jura, Wesley?! Claro que consigo, meu amor! Eu costuro qualquer coisa. É só me dizer como vocês querem, que eu faço. Mas é sério isso?

- Claro que é. Assim, vou falar com a Divina, mas eu tenho certeza que ela vai adorar que seja você. 

- Ai, ótimo, Wesley. Te agradeço muito. Eu tava querendo arranjar uns trabalhos extras mesmo. E mais para frente eu vou tentar arranjar outra coisa. Gosto muito de Cema, das meninas no salão. Me ajudaram muito quando eu mais precisei. Mas tenho que trabalhar nos finais de semana. Fica muito difícil conciliar para ficar com Tonho. Ele se adaptou rápido à casa aqui no Rio, se dá muito bem com Oto. Mas eu quero passar mais tempo com ele. Essa coisa de ficar aqui e lá com Ari mexe com a cabecinha dele. Ari também tem falado umas coisas para ele, tentando jogar Tonho contra o Oto. Ari e aquela urubua da mãe dele. Eu tô conseguindo desfazer as ideias que eles colocam na cabecinha dele, mas eu sinto que preciso estar mais com ele, sabe? Para não deixar esses dois envenenarem ele. 

- Mas esse teu ex não vale o que o gato enterra, hein? Oxi! Você tá certa, mas olhe, se eles ficarem fazendo essas intrigas, avisa o juiz. Isso é alienação parental. Eles não podem fazer isso.

- Sim! Eu sei. Oto já me disse para falar com o doutor Júlio sobre isso. Eu vou falar. Até porque vão começar as avaliações com psicóloga, assistente social. Não vou deixar fácil para ele não. Ari que me aguarde. Ele e aquela urubua não dão ponto sem nó. Tão fazendo isso porque sabem que vão avaliar a relação do Tonho com o Oto agora. Aí querem fazer Tonho ficar contra ele. Mas não vão conseguir, não. A gente tá muito bem, nossa vida na nossa casa tá tão arrumadinha, Wesley!

- E eu num sei?! Pois não deixe essa gente se meter nisso não, Brisa. Defende tua felicidade! Tua família!

- É... minha família. - Os olhos dela brilhavam pensando no que tinha conseguido construir em tão pouco tempo no meio do maior caos que já tinha passado na vida. 

- Já vão, Brisa e Wesley? - Joel saía apressado de dentro do bar. - Não vão querer uns bolinhos? Tão quentinhos.

- Ah, tentação, seu Joel! Mas deixe para mais tarde. Vou vir com Oto aproveitar o sambinha que vai ter que eu sei.

- Ah, isso aí! Venham mesmo!

Wesley e Brisa saíram animados, conversando sobre como seria trabalharem juntos. 

***

Oto chegou no início da noite, voltando de uma rápida viagem a trabalho até São Paulo. Brisa estava distraída terminando de secar alguns talheres encostada pia. Ele se aproximou sorrateiramente, beijando-a no pescoço.

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