Brilho que não se apaga

322 12 85
                                    

Brisa acordou mais cedo do que precisaria naquela segunda-feira. Era o primeiro dia de aula de Tonho na nova escola, um pouco mais distante do que a anterior. O coração de mãe ainda não estava totalmente curado dos momentos de terror pelos quais havia passado. 

Sentia-se insegura em deixar, novamente, seu primogênito longe do seu olhar cuidadoso e protetor. A gravidez intensificava tudo que sentia: queria poder manter Tonho tão perto dela quanto o bebê estava, longe da maldade que está nos lugares e nas pessoas que menos imaginaria. 

Mas também não podia podar o crescimento dele. Estava dividida. Precisava que as coisas voltassem ao "normal", o máximo possível. Era melhor que fosse antes dele começar a estranhar o afastamento repentino de Ari. 

Somente quando pensou em se levantar do sofá e ir até a cozinha é que percebeu que Oto estava de pé encostado na parede do corredor a observando.

- Oto? Você tá aí há muito tempo? Não ouvi você chegar.

- Eu vi quando você levantou da cama. Você demorou, eu vim ver se está tudo bem. Tá preocupada com o Tonho?

- É. Eu sei que não faz sentido esse medo, que tudo que ele passou foi por causa do Ari. Mas eu não consigo ainda ter a mesma confiança. Assim como Ari conseguiu um jeito de se infiltrar dentro do colégio...

- Eu sei, Brisa. Eu também acho estranho não ter mais o Tonho o tempo todo aqui com a gente. Eu acostumei com ele em casa, sempre perto. Dá um conforto de poder proteger ele. Mas a gente precisa pensar no que é melhor para ele. - Sentou-se ao lado dela no sofá.

Brisa encostou a cabeça no ombro dele, pensativa.

- O que a gente pode fazer é acompanhar mais de perto, estar sempre em contato com a escola. Você disse que eles sabem do que aconteceu com o Tonho na escola antiga, não é?

- Sabem. Foi a primeira coisa que eu falei quando fui conversar com a diretora e considerei matricular ele lá.

- Então. Acho que eles vão ter mais cuidado com o Tonho. Principalmente nesse primeiro momento de adaptação. Vai ser bom para ele estar junto de outras crianças, fazer novos amiguinhos. Até ele ter a irmã para brincar.

- A irmã ou o irmão né, Oto?- Perguntou com um riso escapando no rosto. 

- É, isso. Eu vou com você levar ele.

- Mas você não tem a reunião com seu Guerra hoje?

- Ah, mas não é tão cedo assim. É mais para o final da manhã. A gente vai, deixa ele na escola e depois eu vou.

- Tá bom. É bom eles já te conhecerem, para quando você for buscar Tonho.

É... - Passava os dedo pelo rosto dela. - Brisa, me diz uma coisa: você faria um depoimento contra o Ari? 

- Contra Ari? Como assim?

- O Guerra me perguntou como estava o processo do sequestro. E se você teria interesse em testemunhar contra o Ari no processo que ele está movendo no caso das ações da Chiara. O Guerra acha que pelo fato de você ser ex dele e ter sido prejudicada pela aproximação dele com a Chiara pode ser um depoimento forte, com credibilidade.  Eu, sinceramente, prefiro que você fique longe disso. Ainda mais agora. Mas eu não posso responder por você. 

- Eu falaria. Se for só para contar a verdade, de como as coisas aconteceram, eu não teria problema em falar. Mas eu também não sei quais são as intenções do pai de Chiara...

- É, eu também acho. Eu vou conversar com ele e aí a gente vê como que ele vai conduzir essa aproximação. O que ele vai falar. - Levantou-se do sofá.  - Agora eu vou preparar nosso café da manhã.

Dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora