Confiança

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Brisa entrou na escola como um furacão. Sem sequer olhar para os funcionários na portaria, caminhou com passos apressados e pesados diretamente até a secretaria. Wesley tentava acompanhar seu ritmo, mas ia mais atrás terminando de falar com Oto ao telefone. Antes que Brisa abrisse a porta no impulso, Wesley segurou no braço dela:

- Já falei com ele. Ele já tá indo pegar a ponte aérea.

Brisa apenas assentiu com a cabeça. Entrou intempestiva na sala, já perguntando sobre o que tinha acontecido e buscando os responsáveis por aquela falha tão grave.

- Senhora Brisa, se acalme. Eu sei que a situação é grave, mas precisamos conversar com calma para passarmos tudo o que sabemos para a senhora. A polícia já foi acionada, a guarda e o conselho tutelar também. Estamos todos mobilizados para encontrá-lo o quanto antes.

- Calma? Como você quer que eu fique calma com meu filho por aí, vai se saber onde, com quem? Isso é de uma irresponsabilidade muito grande. Eu deixei o meu filho em segurança aqui. Ele saiu da sala sem ninguém ver? Vocês deixam as crianças soltas, sem supervisão de um adulto? Isso é um absurdo! Eu confiei em vocês!

- A senhora tem toda razão! É uma falha sem justificativa. Nós iremos rever todos os nossos protocolos. Mas, por favor, vamos nos juntar e nos concentrar nesse momento em achar o Tonho. Todos nós queremos e precisamos disso. Sente-se, por favor.

- Eu não quero sentar, não. Me fale, como isso aconteceu?

- As crianças estavam no intervalo no pátio. Já estava no final, a professora estava prestes a conduzir as crianças de volta para a sala para a última atividade do dia. A Vanda, uma funcionário da limpeza, eu até pedi para chamarem ela para falar pessoalmente com você, ela viu quando um carro parou na porta. Um homem de terno saiu e chamou o Tonho pela grade. Chamou pelo nome.

- Carro, que carro era esse? Era um carro preto?

- Não, a Vanda não sabe identificar modelo de carro, mas ela disse que era um carro grande, cinza escuro. Tipo essas caminhonetes. Mas luxuoso. Olha ela aí, pode entrar Vanda.

- Com licença. A senhora é a mãe do menino, né?

- Isso mesmo. Sou. Por favor, me diga tudo que a senhora viu, é muito importante para eu encontrar meu filho. - Sua voz saía embargada de choro.

- Eu estava perto do corredor que vai para a quadra varrendo quando eu vi esse carro parar um pouco à frente do portão principal. Um moço alto de cabelo grisalho, vestia um terno preto... desses que seguranças costumam usar, sabe? Ele desceu e veio até a grade ao lado do portão, chamou o Tonho pelo nome. Por isso na hora eu não maldei, parecia que ele conhecia a criança. O menino foi até próximo da grade e falou com ele. Foi bem rápido. Mas depois o Tonho voltou para perto dos coleguinhas. Aí depois disso eu não sei mais.

- Mas esse homem continuou ali na grade? - Brisa questionou confusa.

- Não. Ele entrou de novo no carro e saiu.

- A gente buscou pelas imagens da câmera. A câmera não pega exatamente no trecho da grade onde ele ficou. Achamos bem estranho isso. É como se ele soubesse que ali não seria gravado. A câmera externa pegou só uma parte da frente do carro. Deixa eu te mostrar. - A diretora pegou um notebook e reproduziu a cena.

- Será que é um carro diferente do Guerra? - Brisa falou diretamente com Wesley, seus olhos estavam angustiados com o que pensou naquele momento.

Wesley entendeu a desconfiança dela.

- Pode ser, Brisa. Ele não viria com aquele carro de sempre ou mandaria alguém nele.

- Nós tentamos pegar outros ângulos com câmeras dos prédios próximos, mas como aqui tem uma praça na frente, as imagens que mais interessariam são da prefeitura. A polícia é que vai atrás dessas imagens, a gente não pode solicitar isso. Então isso é tudo que a gente tem. Ah, sim! Ele não passou pelo portão principal. Achamos que ele saiu pelo portão que tem na lateral. Tinha chegado um carregamento de alimentos que nós usamos nos lanches das crianças. É possível que o portão estivesse aberto. Mas nenhum funcionário viu ele saindo por ali. É só o mais provável.

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