Seguindo o destino: estrada

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Antes de deixarem o quarto rumo ao Rio de Janeiro, Oto colocou sua mochila em cima de cama organizando tudo que iria levar, incluindo alguns lanches rápidos que havia comprado para encararem as muitas horas na estrada. Despreocupadamente, retirou alguns de seus documentos e jogou sobre a cama. Brisa estava em pé próxima a uma das mesas de cabeceira quando identificou um passaporte. Era um passaporte diferente. 

- Então seu nome é Oto? - perguntou com o passaporte aberto nas mãos.

- É. - limitou-se a responder, percebendo que ela estava com seu passaporte português. Retirou-o rapidamente das mãos dela e guardou na mochila sem dizer mais nada.

Brisa pensou em perguntar por que o passaporte dele era estrangeiro, mas achou melhor não falar nada naquele momento. Estavam em uma trégua e prestes a serem companheiros de viagem em um longo caminho. Não queria mais nenhum conflito com ele.

- Vamos? - sinalizou que já estava pronto para irem embora.

- Vamos!- Brisa sentia uma estranha empolgação naquele momento. 

No pátio, Oto se adiantou e abriu a porta de trás, colocando sua mochila. Brisa se direcionou para o lado oposto, parando ao lado da porta do carona. Antes que ela entrasse, Oto a interrompeu:

- Posso te pedir uma coisa?

 -  O que é? -  Brisa não conseguia pensar em algo que ela pudesse fazer para ajudá-lo. Temia que ele estivesse mudando de ideia sobre levá-la com ele.

- Você está sem documento nenhum, sem boletim de ocorrência, nada. Tem um posto da Polícia Rodoviária um pouco antes da saída da cidade. Pode ser que parem a gente, ou não. Mas não podemos arriscar. Eu não tenho como explicar você no meu carro.

 - O que é que a gente vai fazer então?

- Eu queria pedir para você sair daqui... no porta-malas. - disse com certo desconforto em dizer. Sabia que não era algo agradável para se pedir a quem acabou de sair de um.

- No porta-malas? De novo? - Brisa sentia como se tivesse levado uma rasteira. 

-É, eu sei, eu sei que você acabou de passar por esse sufoco, mas seria por pouco tempo. Até a gente passar do posto da polícia. O porta-malas desse carro tem uma abertura que o liga com os bancos traseiros. Vai ser menos incômodo. Depois eu paro e você vem para frente comigo.

A ideia não era agradável, mas Brisa compreendeu que seria necessário. Ela não saberia o que dizer para a polícia e não queria enfrentar mais nenhum imprevisto até chegar ao Rio de Janeiro. Concordou.

Oto abriu o compartimento e ajudou Brisa a subir. Antes de fechar a porta, os dois se entreolharam. Ambos relembraram o momento em que haviam se encontrado naquela manhã. Oto entrou no carro, respirou fundo e deu partida. 

Passaram pelo posto da polícia sem serem interrompidos. Oto parou o carro no acostamento e saiu para libertar Brisa de um porta-malas pela segunda vez no dia. Tinha um riso improvável estampado no rosto. 

- Vem, já pode sair. - estendeu a mão para ela. - Tanto carro para você entrar no porta-malas, tinha que ser logo no meu. - dessa vez a reclamação era em tom de zombaria.

Brisa riu um riso inesperado e silencioso. Retrucou:

- Ninguém mandou você esquecer ele aberto. Entrei mesmo. 

Os dois recomeçaram a  viagem com um sorriso apaziguado no rosto. Após alguns minutos, Oto quebrou o silêncio:

- Você disse que tem um filho?

- Tenho sim. Tonho. Já estou cheia de saudades dele. Ficou lá em Mandacaru. - seu sorriso agora era explícito e assumia o apego que tinha ao seu menino. 

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