Perguntas e respostas

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Brisa fechou a porta e continuou olhando sorridente para Oto e Guerra. Percebia um clima diferente no ambiente. Os dois se olhavam como se tivessem combinado tacitamente de encerrar o assunto que tratavam assim que notaram sua chegada.

- Tá tudo bem? - Brisa perguntou com o semblante desconfiado.

- Tá, tá tudo certo. - Oto pigarreou. - A gente estava falando sobre as coincidências todas que aconteceram desde o acidente.

- Ah, isso é verdade! - Brisa comentou em tom de alívio de finalmente poder compartilhar o que pensava. - Eu estou muito feliz de ter sido compatível com o senhor, mas essa história toda me deixou muito intrigada. A vida é muito surpreendente mesmo. Quando que a gente ia imaginar uma coisa dessa?

- Muita coisa acontecendo que eu nunca poderia imaginar. Mas que eu estou muito feliz que estejam surgindo. - Guerra fez um sinal com a mão chamando Brisa para perto dele.

Brisa se sentou na beira da cama. Olhava para Guerra com ternura, mas estranhava a forma com que ele a observava.

Guerra pegou sua mão entre as dele e, sorrindo, afirmou para ela:

- Independentemente de qualquer coisa, eu sinto que nós agora temos um vínculo para toda a vida. Ao menos, eu sinto isso agora. E gosto disso. É como se agora eu tivesse uma filha caçula, ainda que Chiara seja mais nova que você.

Brisa colocou a outra mão sobre a dele.

- Eu também me sinto mais próxima do senhor agora. É engraçado que o Tonho sempre falou do senhor com muito carinho. Ele sempre te considerou como um avô, que ele nunca teve. Eu não tenho pai, o de Ari já morreu e ele mesmo não conheceu. Agora ele tem dois. O senhor e o seu Atílio, pai de Oto.

- Desde o início eu me apeguei a ele. Quando ele chegou lá em casa, meio desconfiado, era como se eu estivesse vendo meu neto entrar na minha casa pela primeira vez. Tão esperto, carinhoso. Você criou ele muito bem. Tenho certeza que foi você.

- Fui eu. Eu criei ele praticamente sozinha.

- Eu sei. E foi uma mãe fantástica. Todo mundo percebe isso rápido.

Chiara entrou de repente no quarto.

- Pai, a sala de fisioterapia já está pronta para o senhor. Já vão vir te buscar.

- E a gente já vai, né, Oto? - Brisa virou-se buscando a confirmação dele.

- Vamos. Já vimos você bem e se recuperando. E faço questão de estar aqui quando for para sair daqui para casa.

- E eu espero que isso aconteça logo. Mas nós nos falamos em breve. - Fez um sinal com o olhar para Oto.

- Claro - tentou ser discreto.

***

Oto abriu a porta e Brisa entrou caminhando devagar. Tinha o olhar pensativo, mas feliz.

Ele passou a mão pelo rosto dela e perguntou:

- Você tá bem? Veio calada o caminho todo.

- Tô bem sim. Aliviada e feliz de ter tudo dado certo. As coisas estão se encaminhando. Mas agora que aquela agonia toda passou, tem um monte de perguntas na minha cabeça. muita coisa que eu queria entender, mas não sei nem por onde começar a pensar. - Deu um riso sem jeito.

- Eu sei. - Oto suspirou e decidiu ir direto ao assunto. - Brisa, senta aqui. Eu quero muito falar uma coisa com você. Acho que é o começo de uma resposta para uma boa parte das perguntas que você tem.

- O que foi, Oto? Algum problema? - A pergunta saía em meio a uma expressão contorcida de cansaço e temor.

- Não. Não é um problema. Mas é um assunto importante. Muito importante. Eu vou olhar a Aurora e se estiver tudo certo, vamos lá para o quarto. Para ninguém interromper nossa conversa.

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