Passado, presente e futuro

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Brisa trocava a fralda de Aurora ao mesmo tempo em que fazia caretas para a filha. A menina balbuciava e parecia reagir à brincadeira, ainda que pouco pudesse ver do rosto da mãe com tão poucos dias de nascida.

Mas o momento de descontração não foi suficiente para tirar a angústia que apertava o peito com a demora de Oto para retornar para casa. Horas já haviam se passado. Brisa passou a mão no celular sobre a mesa da sala diversas vezes, desistindo de ligar em todas elas. Aurora havia pegado no sono e ela decidiu sentar no sofá e descansar enquanto aguardava Oto voltar.

Acabou pegando no sono. O celular estava prestes a cair de sua mão quando voltou à consciência. Ouviu o barulho da porta abrindo.

Oto entrou e colocou o celular e as chaves em cima de uma prateleira e só então se virou e viu que Brisa estava na sala. Ela, inquieta e ainda sonolenta, tentava ver seu rosto para interpretar suas expressões. Tininha ouviu que ele havia chegado e veio correndo para saber o desfecho daquela história.

- Você demorou! E então, Oto, conseguiu descobrir quem mandou?- Brisa tinha os olhos arregalados de expectativa.

- Consegui. Demos sorte que o entregador parou no bar para ir ao banheiro. Ele não sabia, claro, quem era o remetente, mas me disse onde era essa loja.

- E você foi lá? Eles te falaram quem foi? - Tininha perguntou impaciente e curiosa.

Oto tinha a expressão fechada ao fazer um gesto afirmativo com a cabeça.

- É quem a gente pensou. O óbvio. Dona Núbia.

Brisa soltou um suspiro raivoso.

- Essa urubua! Não perde uma chance de se meter na minha vida, de vir estragar minha felicidade.

- É, mas ela não vai mais se meter, não. - disse em tom resoluto.

- Como assim?

- Ela já está sabendo bem com o que ela está lidando agora. Fiz questão de ir pessoalmente ter esse papo com ela.

- Tu fostes atrás de dona Núbia? - Brisa arregalava ainda mais os olhos.

- Fui. - Disse calmamente. - Lá na loja eles não queriam  me informar quem tinha mandado. Até porque ela pediu sigilo. Mas eu não desisti não e falei para eles que a gente já desconfiava de quem era e que essa pessoa não pode se comunicar com você por estar diretamente envolvida em um crime, de sequestro. Disse que ela tinha te ameaçado e que nós iríamos a polícia. Aí a vendedora chamou o gerente e eles resolveram confirmar que tinha sido ela. Saí de lá, liguei pra Laís e peguei o endereço dela, que consta no processo.

- Ela deve ter tomado um susto quando te viu. - Tininha observou rindo.

- Ficou me olhando na porta um tempão. Até gaguejou. Eu fui direto ao assunto e deixei bem claro que ela não vai mais importunar a gente, muito menos mexer com qualquer coisa que afete a Aurora. Nem o Tonho ela pode mais perturbar, mesmo sendo neto dela, e fiz questão de lembrar, com todas as letras, que ela tá respondendo a um processo criminal pelo sequestro dele. Ela tá muito acostumada com o filho banana dela, mas eu não vou permitir a interferência dela, nem de longe, na nossa vida. Deixei bem claro que a minha visita surpresa era o último aviso e que ela não vai ter outra oportunidade de seguir o rumo dela. Se ela tentar qualquer contato, por menor que seja, ela volta para trás das grades. E se a justiçar falhar nisso, eu não vou vou. É comigo que ela vai se entender. Ela nem tentou retrucar. Acho que entendeu o recado. - Tinha um tom de voz pleno enquanto narrava os fatos, mas suas feições estavam rígidas e seus olhos faiscavam uma ira contida.

Brisa ouvia atenta, com o semblante concentrado. Sentia-se satisfeita com aquele desfecho, por não ter sequer precisado pensar em como iria devolver o afronte desta vez. O mal-estar que a mensagem havia deixado ao longo de todo aquele dia tinha se dissipado. Observava Oto responder às perguntas de Tininha com o pensamento além daquele assunto.

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