Palavra

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Brisa ia pelo canto do calçadão, perto da areia. Tonho ia de mãos dadas com ela e com Oto, que levava Aurora presa no sling, acomodada em seu peito. 

Ainda era cedo, mas a praia estava cheia de pessoas correndo e praticando esportes.

Foram parados algumas vezes na caminhada com pedidos de autógrafo e fotos para Brisa. 

Caminharam mais alguns metros e decidiram sentar um pouco em um quiosque. Tonho sentou no chão, com os pés na areia. 

Ela tinha um sorriso tímido e pensativo no rosto ao olhar para ele. A pergunta soou como uma curiosidade despretensiosa, mas suas mãos inquietas sobres as pernas denunciavam a insegurança que a consumia.

- Isso te incomoda, Oto?

- Isso o quê? - Sorria tentando entender o questionamento repentino. 

- Essas abordagens, ter nossos passeios interrompidos...

- Sinceramente, Brisa? Isso não me incomoda nem um pouco. Até hoje não houve nenhuma situação que tivesse algo demais, que saísse do limite. Eu vejo um carinho, uma atenção de pessoas que te admiram. Elas te cumprimentam, querem um registro. Nada demais.  

Brisa tinha uma expressão ainda ressabiada e sem jeito.

- Mesmo, Oto? É sério que não te incomoda nada, nada? Porque a gente tá em um momento nosso, com a nossa família, é uma coisa pessoal...

- É sério, Brisa. Não me incomoda. Também não é nada do tipo que a gente não consiga andar. São poucas pessoas. Algo rápido. Para mim, é como encontrar algum conhecido na rua. Você para, cumprimenta e segue. Faz parte de ser casado com uma estrela  maravilhosa. - pegou a mão dela sobre a mesa e beijou. 

Ela riu e reclamou:

- Eu tô falando sério, Oto. Porque não deixa de ser algo que você está sendo obrigado a lidar agora e que não acontecia antes. Pessoas desconhecidas parando a gente no meio da rua, no shopping, nas lojas. Não é possível que você não fique nem um pouquinho incomodado... - Apertava os olhos e fazia um sinal com  o dedo indicador e o polegar.

- Eu também estou falando sério. Até agora, nada disso me incomodou. Nem um pouco. Eu quero ver você feliz, realizada. Isso faz parte do que você escolheu para você, da sua carreira. Se faz parte da sua vida agora, faz parte da minha também. 

Brisa estendeu a mão e acariciou o rosto dele.

- Eu fico feliz que você pense assim, de saber que eu tenho o seu apoio. Mas, por outro lado, é importante para mim saber como você realmente se sente com essas mudanças. Porque é algo do meu trabalho, mas que atinge você, as crianças... Não é possível que nada te incomode. 

- O que me incomoda...Você tá perguntando, então não vou mentir.  É quando junta homens fazendo comentários sobre você, fisicamente. Isso eu confesso que não consigo fazer com que não me afete. Mesmo sabendo que é inevitável. Mas... já que é inevitável, eu tento só deixar para lá.

- Mas isso não é exatamente algo específico da carreira. Pode acontecer com qualquer pessoa. Acontece com você também. E tu nem é artista.  - fez uma careta de pouco caso.

- Então... E você sempre reage quando isso acontece. Briga tanto comigo quanto com quem fala. A diferença é que eu não posso fazer isso. Porque no seu caso isso "faz parte" do comportamento do público, né? Eu que guarde a raiva para mim... - riu resignado.

- Mas eu estou tentando melhorar isso também. Digo, de minha parte... Só aqui, a gente andando, mesmo você estando com seus filhos, tu achas mesmo que as mulheres não tão te olhando de cima a baixo? Pois eu percebo sim, viu? Aliás, por você estar andando com Aurora é que elas olham mais ainda.

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