Brisa abriu a porta do camarim sem usar a maçaneta. Espalmou as mãos com força, abrindo-a com descuido e impaciência.
Descansou as mãos no balcão em frente ao espelho. Respirava ofegante com a boca entreaberta. Nenhuma quantidade de ar parecia suficiente. Seus lábios estavam trêmulos. Sentia como se alguém a esganasse, impedindo o ar de passar. Fechou os olhos com força enquanto murmurava para si mesma como um mantra:
-Não poder ser. Não pode ser... não pode...
Wesley entrou desavisadamente animado. Trazia uma garrafa de champanhe em uma mão e taças na outra.
Sua expressão sorridente rapidamente se fechou ao notar o semblante de Brisa pelo espelho.
- Brisa, mulher, aconteceu alguma coisa?!
Ela se virou para ele. Tinha o olhar exclamado e atordoado.
- Eu mesma não tô acreditando no que eu vi, Wesley. Mas eu vi.
- Viu o quê?!
- Eu tenho certeza que era Ari. Eu vi ele no fundo do salão. No final da apresentação. Era ele. Eu tenho certeza!
- O Ari? Mas ele não tá preso? - Wesley perguntou aflito. Espelhava o semblante atordoado de Brisa.
- Devia estar. Devia estar, Wesley. Mas eu tenho certeza que era ele. Certeza!
Três batidas rápidas na porta. Ambos se assustaram e olharam com expectativa angustiada para a entrada do camarim.
Oto apareceu sorridente na fresta da porta.
- Podemos entrar?
Assim que Oto parou na entrada do camarim, Brisa correu em sua direção e o abraçou apertado.
- Tá tudo bem, meu amor? - tentava ver o rosto dela.
Guerra e Chiara, que esperavam logo atrás de Oto, esgueiravam-se tentando entender o que estava acontecendo.
- Ela acha que viu Ari aqui. - Wesley se adiantou para ajudar Brisa.
- O Ari? - o nome saía em tom de asco e surpresa.
- No fim da apresentação...Eu olhei no fundo do salão. - Brisa começou a falar pausadamente, tentando manter a voz firme. - Tinha um homem de camisa branca de pé, bem lá no final. Me chamou atenção porque ele estava parado sozinho perto da saída, onde tem aquelas cortinas vermelhas. Longe do resto do público. Quando eu olhei para ele, parecia que ele tinha notado e saiu apressado. Mas eu vi, Oto, eu tenho certeza que era ele. - Sem notar, entrelaçava os dedos na camisa de Oto, puxando-o para baixo.
Oto abraçou Brisa apertado e acariciou os cabelos dela.
- Ei, meu amor... - Passou os dedos delicadamente pelo rosto dela, fazendo-a olhar para ele. - Não importa se for ele. Ele não vai conseguir fazer nada. Eu não vou deixar ele se aproximar de você, da nossa família.
- Eu sei. Eu sei. Mas eu não esperava isso logo agora.
- Será que ele fugiu da cadeia? - Oto olhou para trás buscando por Guerra.
Guerra saiu da porta e entrou no camarim, seguido por Chiara. Ela tinha tinha um semblante alarmado. As duas se entreolharam compartilhando da mesma angustia.
- Minha filha, você tem certeza que era o Ari?
- Tenho. Eu sei que parece improvável. Mas eu tenho certeza que era ele. Eu não estava esperando vê-lo. Eu não estou sugestionada. Mesmo à distância, eu sei que era ele...
Guerra fez um sinal com a mão indicando que ela não precisava se alongar ou dar explicações. Queria apenas a confirmação.
- Oto, vamos lá na administração da casa? Ver as imagens das câmeras.
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Dois mundos
Fiksi PenggemarUma órfã de vida simples em Mandacaru, no interior do Maranhão. Criada em meio à natureza e imersa nas tradições do povo que a acolheu. Cantora e dançarina, mas também lavadeira, passadeira, costureira e o que mais fosse necessário na rotina de muit...