Capítulo 2

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Lá estava eu, na espera de um sinal de que tenham dado significância à minúscula existência do meu botezinho.

Percebo quando o gigante navío já estava próximo que sua velocidade diminui.

Me notaram...me notaram!

Nem quando meu crush do quinto ano me deu um beijo na bochecha eu estive tão feliz.

As ondulações que aquele enorme navío causava ao se locomover estavam me afastando.

- Aa, mas não vai mesmo! - Imaginei dois remos de madeira.

Foi um grande esforço chegar perto do navío, meus braços que o digam.

Escuto alguém gritar lá de cima e algumas pessoas com roupas um tanto quanto engraçadas chegarem à borda das barras de proteção, provavelmente para ver o quê acontecia.

- Senhor! O quê faz aqui ? - Pergunta um homem aparentemente uniformizado, possível trabalhador do navío.

Ele acha que eu sou um homem? Olho para cima mas era tão alto que a minha visão me permitia poucos detalhes.

Certo, ele também não deve estar vendo muito, eu estou com um conjunto de moletom cinza escuro à distância...me assemelho a um homem.

Preciso de uma mentira convincente.

- Estava observando o mar e a movimentação das ondas me carregou, não consegui remar de volta! - Gritei de volta. Bem, posso elaborar isso quando estiver lá em cima.

Que desculpa de merda.

Houve um silêncio, eles não acreditaram. Só pode ser isso.

Bom, talvez seja por acreditar que eu era um homem e minha voz explicitar o contrário.

- C-certo senhorita, lançaremos uma escada, acredita ser capaz de subir? - A pergunta me fez refletir...não tinha opção, ou eu subo, ou subo!

- Sim! - Gritei e logo uma escada de corda e madeira apareceu em meu alcance.

Antes de subir pensei por uns minutos, eu não sei onde estou, quem eles são e para onde vão.

Preciso me preparar para ter desculpas plausíveis e não parecer suspeita seja no quê for.

Acabei lembrando que nos pés só levo meia, mas não importa.

Imaginei uma mala grande com alças nas costas. Trancada com cadeado e claramente imaginei a chave.

Vazia. Mas caso perguntem de onde consegui algo, posso dizer que estava na mala, certo? Coloquei-a nas costas, era quase maior que eu.

Comecei a subir me despedindo do bote. Foi um grande companheiro de reflexões.

Qual é, não dava pra levar ele!

Me pus a subir condenadamente. Haviam muitos andares, já passei por uns cinco, não acabam.

Quando cheguei no último, me estenderam a mão e me puxaram.

Olhei ao redor, haviam mulheres com vestidos enormes e rodados, homens novos usando chapéus e bengalas. Me lembravam os cenários dos filmes que retratavam 1910.

Os poucos que ali se encontravam me olhavam com espanto.

- Senhorita, de onde você vem, por quê estava aqui e por que se veste assim? - O homem com quem troquei gritos perguntou, apreensivo e brando.

- Eh...em que ano nos encontramos? A minha mãe, ela... e-ela... - Falei como se estivesse em pânico e comecei a chorar. Claramente eu merecia um Oscar.

Eu não poderia responder nada sem saber em que situação me encontrava, seja um sonho ou não, não parece que eu vá sair daqui tão cedo.

O homem me olhava desesperado e perdido, tive vontade de rir, mas continuei a chorar.

- Se acalme, santo cristo! - Ele afobado me entregou um lenço. - Estamos em 1912 à alguns kilómetros de Southampton, senhorita. A senhorita bateu a cabeça, de onde é? Como veio parar aqui? - novamente perguntou, cara insistente, aparentemente terei que acabar com todas as suspeitas antes de surtar por estar em 1912.

Southampton...geografía não é meu forte. Ah, okay pensemos:

Não estudei muito sobre história, só o básico da escola...droga. 1912... 1912...

Certo! Mesmo que seja uma droga, preciso de algo que não lhes dê o direito de me rebaixar, preciso de poder. Mas discreto para que não lhes surjam brecha para questionamentos.

Foda-se aonde seja Southampton, só sabendo que existe, basta.

Nova York, dinheiro, alta classe, poder social! Não precisa fazer sentido pra mim, sim para eles.

- Estávamos voltando, p-para Southampton após ver as novas terras do meu pai em Nova York...- me pus a soluçar - estava andando pelo navio quando puxei minha mala, e cai no bote, me pus a g-gritar por ajuda, mas o motor era mais alto e as ondulações me empurraram.

Terras, dinheiro, dinheiro: poder.

- Já faz uma noite que e-estou aqui, tentei remar mas não cheguei à lugar algum, até que esse navío aparecera. Pela noite fizera tanto frio que vesti esta roupa que estava no bote, não poderia sacar meus vestidos e ter o risco de molhar-os no mar! - Eu não tinha tais vestidos, mas pronunciei com tamanha dramatização que parecia realmente uma dama mimada e, que eles estavam na mala.

- Certo senhorita, se acalme. Quem é seu pai? - Ele perguntou, notei que havia algo ali, o quê eu respondesse iria ditar a maneira como me tratariam ali.

Pensei, pensei...tinha que ser rápida.

- Calum Franer, voltávamos da revisão das novas terras e...- Chorei e solucei novamente.

- Chega, Senhor Hugo. - Disse um senhor grisalho e barbudo que eu já vi em algum lugar...

- Vá encontrar um espaço desocupado para a senhorita na primeira classe. - O homem disse e me observou. Fingi estar me acalmando, afinal, não estava emotiva de verdade.

- Sim, capitão. - O homem que até então falava comigo se retirou para acatar às ordens do grisalho que focou sua atenção em mim.

- Bom, senhorita, nosso destino é Nova York, acredito que consiga se situar por lá? - Perguntou com certa destreza, parecia acostumado a lidar com pessoas de alta classe, mesmo que eu não fosse, ele não precisava saber.

- Correto, de lá posso entrar em contato com minha família. Obrigada, senhor...? - Perguntei incitando-o a dizer seu nome.

- Capitão Edward Smith, senhorita... - Ele fez o mesmo comigo.

- Florest Franer. Pagarei pela estadia assim que eu me estabelecer, senhor. - Falei simples e com um leve tom de arrogância.

- Bom, Senhorita Franer. É provável que tenhamos sete dias de viagem pela frente. Bem vinda ao Royal Mail Steamer. - Falou com um sorriso minimamente simpático e se retirou.

Estática, completamente paralizada era como eu me encontrava.

Royal Mail Steamer. Eu repeti em minha mente.

Conhecido com RMS Titanic.

Titanic! Tá Zoando!?

Céus, me fodi!

As poucas pessoas ainda me observavam nada discretamente, cochichando.

Logo o rapaz voltou me tirando do torpor e me mostrou aonde eu iria ficar antes de afundar, digo...chegar ao nosso destino.

Espera...eu estou no cenário aonde se passa o filme? Ou o náufrago real?

Bom...pra confirmar minha suspeitas, poderia procurar pelos protagonistas, não lembro da face de muita gente.

Jack, aí vou eu!

- Titanic! Tá Zoando!? Onde histórias criam vida. Descubra agora