O Badalar dos Sinos

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O Badalar dos Sinos

Presença oculta, machado posicionado acima da cabeça com a mão esquerda e olhos totalmente vibrados em sua caça, sem ao menos deixar escapar uma única piscadela. O javali que havia perdido semanas atrás estava poucos metros a sua frente, e Becca não o deixaria escapar desta vez. Era uma chance em um milhão. Mantendo seu corpo agachado entre os arbustos para que o animal não a visse, ela arremessa seu machado acertando-o no pescoço, lhe causando um corte profundo pela arma afiada que ficou cravada em sua carne, o que fez o javali ter uma morte rápida.

— Te peguei. — Comemora Becca indo buscar sua caça.

Desde que o dia amanheceu ela vem caçando o porco selvagem pela floresta próxima ao riacho, e além de conseguir uma boa quantidade de carne valiosa poderia vender uma parte por uma boa quantia. Tirou a corda que trouxe consigo em seu cinto para amarrar as patas do javali e limpou o machado ensanguentado na grama, o amarrando na base de seu cinto para que pudesse levar o animal por cima do ombro até o vilarejo. Seu próximo destino seria o comerciante Duke, na intensão de vender uma parte da carne por saber que o próprio sempre pagava bem e já aproveitar para comprar um presente de aniversário para Prudence, que faria aniversário no dia seguinte.

Algo que Becca havia notado nos últimos dias era o fato dos civis estarem mais alienados a Mãe Miranda, e alguns até mesmo acreditavam que a própria havia voltado. Alguns muros e paredes de casas foram pintados pelo símbolo de um feto com asas, uma marca considerada sagrada e que representava Miranda. Por conta do povo estar grato pelo retorno da própria o vilarejo inteiro realizaria uma festa noturna em nome de sua fé, e até mesmo a igrejinha estava cheia naquela manhã. Quando Becca chegou a praça da donzela conseguiu ouvir um pouco da missa e pôde reconhecer a voz de Beneditt August, um dos mais fiéis líderes de Mãe Miranda e que estava guiando a missa.

— A lua da meia-noite se ergue em asas negras, nós aguardamos a luz do fim... — Louva Beneditt com ambas as mãos erguidas sendo imitado pelo povo da igrejinha. — Na vida e na morte, glória á Mãe Miranda!

— Glória á Mãe Miranda! — Todos a saúdam em sincronia.

Uma ânsia de vômito consumiu a garganta de Becca ao passar por perto da igrejinha, e acelerou o passo para chegar ao pátio dos lordes que ficava logo depois do portão vermelho ao lado do castelo. A carroça de Duke estava no mesmo lugar de sempre, o que já deixou Becca ansiosa em saber que ele estava presente. Para anunciar sua chegada ela bate três vezes no fundo da carroça, e logo em seguida as portas se abrem e Duke se faz presente para ela.

— Bom dia, senhorita Walker! Senti falta dos seus negócios.

— Esse mês foi complicado. — Explica Becca colocando o javali no chão para liberar suas costas. — Mas agora pretendo recuperar o tempo perdido com essa carne. Quanto ela vale?

— Um javali gordo como este, posso comprá-lo por 800€. — Oferece Duke.

— Certo. — Becca empunha seu machado fatiando uma parte da carcaça do javali, entregando-a ao comerciante. — Aproveitando, teria algum livro para venda?

— Para sua irmã, eu presumo? — Adivinha Duke entregando uma pequena bolsa com as moedas de Becca. — Por falar nela, como Prudence está?

— Ela torceu o tornozelo semanas atrás, mas agora está caminhando normal. Amanhã ela vai completar dezesseis anos, e queria dar um presente a ela.

— Ah, os dezesseis anos. Uma idade muito importante para as donzelas do vilarejo, ainda mais na época da colheita. — Comenta o Duke relembrando o passado.

— O meu maior medo era de ser recrutada para o castelo, ou de Prudence ser escolhida, mas hoje por sorte esse pesadelo acabou. Bom, com exceção da alienação do povo pela falsa deusa deles. — Diz Becca dando uma rápida espiadela no castelo a sua frente.

What Could Have Been (Lady Dimitrescu)Onde histórias criam vida. Descubra agora