Destino

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Prólogo

Rastrear um ser, independente de qualquer que seja a espécie é tão complicado quanto executar a receita do mais delicioso dos pratos, se você não manter o foco, pode esquecer um detalhe, deixar de lado um ingrediente... e daí se perde tudo. Faz-se necessário a retomada de todos os passos desde o início, dessa vez observando onde falhou para não cometer o mesmo erro.

Há anos, August, vivenciava esse embate que por muitas vezes parecia mais uma queda de braço. Mesmo com quase um milênio, seu nível de concentração na execução da tarefa cobrava seu preço, em meio aos intrincados laços da viagem astral perseguia um fio, que de tempos em tempos aparecia para ele.

A busca tornou-se mais leve quando contou com a ajuda de um dos seus irmãos, assim como ele, um rastreador. Unidos  corriam atrás do resquício que foi deixado para trás, prestes a ser rompido, seguraram-no, o esforço cobraria seu preço.

Os olhos dourados contemplavam a parte superior do  dossel que armado cobria sua cama, uma camada fina de suor descia por sua testa e peito nu. Sentou-se dando boas vindas ao silêncio, longe do caos que horas antes esteve, respirou fundo, mesmo com a dor reverberando por sua têmpora, um sorriso vitorioso insinuou-se em seus lábios cheios.  

Uma batida na porta, a cabeça de Julian apareceu - Você viu?

Ainda sentado, August sorriu, um sorriso que para ele era novidade, há muito tempo não tinha o desejo de compartilhar. Assentiu.

Entrando de vez no quarto, o irmão coçou a nuca, lembrando-o mais uma criança perdida do que o homenzarrão que era. - O que faremos agora? Vai contar pra ele.

O vampiro loiro levantou, os pés descalços sendo engolidos pelo tapete persa.

- Oh pelo amor do Conselho, pelo menos cubra esse traseiro horrível! Eu ainda nem tomei café! - a exclamação de Julian ressoou no quarto.

August fingiu um bocejo, ignorando-o num primeiro momento, virou-se de frente, encarando-o. - Respondendo a sua pergunta, ainda não. Primeiro irei até ela, precisamos saber sobre sua vida e quais seriam as consequências  caso ela desapareça de repente.

O irmão olhava para um ponto acima da sua cabeça - Não podemos deixar nenhuma ponta solta, mas  não demore, a espera foi longa o suficiente.

Dentro do closet vestiu uma das calças de flanela e saiu provocando - Isso preserva a integridade de seus lindos olhos virginais?

Julian soltou um bufo - Está marcado  a fogo em minha memória, me lembre de lavar meu cérebro com soda cáustica. - riu - Tô indo, Adelly está me esperando, ficou eufórica com a notícia e você sabe como as mulheres ficam quando estão felizes. - levantou as duas sobrancelhas repetidas vezes para evidenciar sua fala.

- Depois ainda me perguntam por que meu quarto é tão longe do de vocês.

- Porque você é um metido e queria o maior só pra você.

August sorriu mais uma vez, estava feliz. Sempre quis ajudar o irmão, Stefan, era como seu filho, seu carinho ultrapassava a linha de criador e criatura, desde que o resgatou sabia que o destino do garoto estava de certa forma ligado ao dele.

Cuidar pessoalmente de um recém criado, tão perdido e solitário foi uma aprendizagem diferente de tudo o que  havia experimentado, por muitas vezes temia que ele se rebelasse ou tentasse contra a própria vida, mas não foi o que aconteceu, seu menino provou ser grato e fiel aos seus valores e princípios humanos. Uma alma pura, feroz e companheira, não era atoa que Scarlet o mimava tanto, quando ela chegou se ligou automaticamente a ele. - "É como dizem, uma alma sofrida reconhece outra". - falou consigo mesmo.

Névoa do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora