Grávida?

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“A morte não é a maior perda da vida. A maior
perda da vida é o que morre dentro de nós
enquanto vivemos.”

Pablo Picasso

Capítulo 39

"Memórias podem ser traiçoeiras" - pensava enquanto caminhava, dispensando as lágrimas que insistiam em cair, há muitos anos atrás ele se proibiu de lembrar, de ficar preso às lembranças que só o machucavam e tendiam a desviá-lo do foco, proteger Lucian. Cumprimentou o guarda de plantão e entrou no pequeno porão, onde a mantinham trancafiada, estranhando o silêncio, alargou as passadas. Sua audição captava o ritmo desenfreado do coração e seus sentidos, a presença do outro ser, apreensivo, pôs-se a chamá-la.

Despertada por uma mão que a sacudia insistentemente, Leah concentrou-se em não demonstrar o quanto o sonho  a deixou confiante, ao ponto de sorrir descontroladamente, disfarçou num tosse, sua fé restabelecida.

- Reina… - Zeyder a olhava - Você estava gelada e suando. Ouvi seu coração acelerado do outro lado da porta, e pior não acordava por nada. Sente-se. Consegue andar? Os ferimentos incomodam?

Por um momento esqueceu-se de que estava encarcerada, pois ele parecia genuinamente preocupado - “Talvez possa usar isso a meu favor”. - Estou bem! - limpou a garganta - Só um pouco dolorida, obrigada por toda comida e pela roupa. - sorriu.

- Bom, venha, vou levá-la para um ambiente um pouco mais cômodo. 

Esperança voltou a resplandecer, deve ter demonstrado em seu rosto, pois ele emendou em seguida - Será aqui mesmo. Não sairemos.

Se saíssem talvez tivesse a oportunidade de ver ou reconhecer algo que a ajudasse a identificar onde estava, mas isso também lhe foi arrancado. Carrancuda, colocou-se de pé.

- Ora reina, não desanime, garanto que gostará.

Leah, curiosa perguntou - Por que me chama assim? Seu chefe também usou esse termo, “reina”, por que se dirige a mim como rainha, ao invés de usar o meu nome?

- Entende francês? - lhe ofereceu um sorriso verdadeiro - Este foi o título que dei à missão. Tudo  que precisa saber é que vivi muitos anos naquela região, La reina, esse nome facilitava a comunicação entre nossa equipe, simples.

Ela levantou, uma debilidade a fez tontear,  instável foi amparada por ele, sem se deixar abater continuou a puxar conversa - Claro, uma missão… mais fácil que dizer sequestro.

- Chame como preferir. - prosseguiu  praticamente carregando-a, enquanto ela arrastava os pés.

A  porta pesada foi aberta revelando um corredor escuro.

- O que vocês tem contra a luz?

Do lado de fora, outro homem aguardava, ela tentou olhá-lo para guardar o rosto, mas Zeyder a puxou, acelerando sua marcha. Em silêncio ele a conduziu até o final da longa galeria que dava direto em um elevador. 

O suor  empapava a camisa de Leah, ela estranhou, sem saber identificar a origem, levou a mão livre ao pescoço para sentir sua pulsação, quando uma pontada no baixo ventre fez com que se curvasse, a dor irradiando por seu dorso arrancou-lhe um gemido. - Meu Deus! Ahhh - gritou.

- O que sente? - alarmado questionou.

Respirava pelo nariz e pela boca, tentando controlar seu fôlego que saia aos trancos. - Cólica, de um jeito que  nunca senti na vida. 

- Venha. - temeroso de que pudesse ser algo relacionado a gravidez,  Zeyder a pegou no colo e entrou na caixa de metal. 

A tez branca com gotículas de suor e os dentes trincados segurando o lamento, o alertaram de que ela poderia estar sofrendo um aborto. - "Seria consequência das emoções ou da perda de sangue ou quem sabe os dois juntos?". - as dúvidas pipocavam na mente de Zeyder, queria correr, porém tudo que podia fazer era esperar até o elevador chegar no andar correto. 

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