Capítulo 2 - Azriel

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***CINCO DIAS***

- Isso está mesmo certo? - a Madame me perguntou, assustada. Eu também tinha ficado, tanto que pedi para o Eureka revisar os números. Quando ele confirmou a minha preocupação, o Félis insistiu em contar a mulher. Fiquei receoso, mas tive de ceder. Afinal, não existe outro humano que tenha maior influência nessas terras do que ela. Olhando pela janela, observando os primeiros indícios de neve que vinham antes do nascer do sol, assenti - Não tem como estar certo.

- Infelizmente, está - Eureka disse, de braços cruzados, entre mim e a Madame. Os pêlos dos seus bigodes estavam eriçados - As Rainhas Mortais fugiram. As terras ao redor estão devorando lixo para não morrerem por que o abastecimento de alimentos foi interrompido.

- O que fazemos? - ela perguntou para si mesma, tirando os óculos que eram pendurados por uma corrente no seu pescoço - As desgraçadas tiraram todo o dinheiro e as casas do seu povo que morava nas proximidades para conseguirem fugir ricas. Isso é um absurdo.

- Eu sei, Eleonora - Eureka a disse, calmamente. Minhas sombras acariciavam a minha bochecha a cada movimento. Eu estava ansioso. Isso era verdade.

- Ei, Gasparzinho! - ela me chamou, rudemente. Virei os olhos para a humana, sem muita reação - Já sabe para onde elas foram?

- Ainda não - eu sabia que não tinham usado as vias marítimas para fugir, ou seja, ainda estavam andando por aqui e seria mais fácil procurá-las. Parecendo espumar pela boca, ela se virou para o Eureka.

- Quero que mande as suas ninfas d'água vasculhar cada litoral em busca delas e que mande três Lordes para a capital para resolver essa confusão usando do direito de Regência - ele assentiu e foi embora rapidamente. Assim que ele sumiu da nossa visão, a Madame desabou sob a cadeira verde escura acolchoada. Ela usava uma espécie de turbante de seda na cabeça e estava com um roupão rosa claro do mesmo material. Sei que cheguei aqui de madrugada, mas acho que estou mais decidido a acabar logo com esse trabalho para conseguir passar um Solstício agradável com a minha família - E você? Vai ficar parado aí? Quer o que? Um beijinho na bunda? - agradável como sempre.

- Já estou indo - falei, respirando fundo para me acalmar. Apesar de ter dito isso, não sai dali. Em resposta, a Madame suspirou.

- Como elas estão? - ela perguntou baixinho.

- Bem.

Depois do baile da Madame, voltamos para casa, um pouco mais descansados. Parte o meu coração pensar que mal as vi desde ontem. Quando voltei para o nosso quarto, após terminar o trabalho, Lizzie já estava deitada na cama em um profundo sono. Não a culpo. Afinal, já era mais de meia noite. Ainda estou receoso em relação ao que dar a ela. O que dar para alguém que pode ter tudo?

- Já que já está indo, pode ser o meu menino de recados vendo que o meu foi embora agora? - não era uma pergunta, mas sim uma ordem velada. Cruzei os braços e a encarei, com a sobrancelha arqueada. No entanto, a mulher não viu, pois estava mexendo em uma das gavetas da mesa de escritório. Ao se levantar, ela me entregou uma pequena caixa branca que estava embrulhada com um pano bege. Sendo como o laço, tinha uma raiz seca e uma etiqueta nela. Não tinha nenhum nome gravado, mas... Em uma das laterais da caixa, o tecido estava manchado de preto e tinham pequenos buraquinhos de queimados nele - Achei isso nas coisas da Safira. Acho que era para a Lizzie. Tentei tirar as fuligens e deixar mais apresentável possível, mas acabei borrando a etiqueta. Entregue para ela.

- Sabe o que tem aqui? - perguntei, sentindo que não era pesado como uma jóia ou um pingente.

- Sinceramente, deve ser algum presente que ela pretendia dar, mas nunca teve a oportunidade. Não abri, se é isso que está perguntando e não deve ser nada tóxico - ela me devolveu os papéis que eu tinha a entregado, guardando os seus óculos de leitura em uma das gavetas.

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