Capítulo 9 - Cassian

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Por que caralhos eu vim para cá?! Ah, sim. Me lembrei. Infelizmente, não tive escolha. Acordei atordoado. Os olhos lacrimejavam. A cabeça doía. E as minhas asas...eu não sentia as minhas asas.

Usei os braços para erguer meu corpo dolorido. Meu rosto estava cheio de grama e lama fria. Tentei limpar a sujeira, porém, meus dedos ainda estavam meio molengas e eu estava tonto. Veneno. Com certeza. Respirei fundo, tentando oxigenar o cérebro. 

Só me lembro de estar conversando com o Lucien quando dois pequenos demônios entraram no bar. Eles eram baixos, tinham a pele cinza escura e dentes pontiagudos amarelos. Nós lutamos com eles quando... Olho para baixo. Havia apenas a marca da flecha que me atingiu pelas costas e atravessou meu peito.

Havia um certo formigamento no meu tronco, então, ainda alucinado, levantei a camisa surrada que eu vestia, vendo uma marca nas minhas costelas. Ela havia sido feita em ferro em brasa, marcando a minha pele como se eu fosse um boi ou um...escravo. Cacete.

Acordei enfim do susto, olhando para os lados, sentindo as minhas asas pesadas. Assim que olho para trás as vejo amarradas com ferro. Eu não conseguia abri-las. Que merda. Ao checar o meu redor, vejo meus companheiros também desacordados. Vou até Azriel, que parecia o mais machucado deles.

Em volta dos meus pulsos, tinham um par de algemas negras, semelhantes a aquelas que usavam em Hybern. Com certeza estavam encantadas. Suas asas também estavam presas e eu não via as suas sombras. Elas haviam desaparecido completamente. O puxei pelo braço, segurando seu tronco e o ajudando a se levantar.

O rosto do meu irmão estava horrível. Havia sangue que escorria da sua boca, sua camisa também estava encharcada do mesmo líquido, e ele custava erguer a cabeça. Um pedaço da hélice da sua orelha havia sido arrancada e ainda sangrava. Seu olho esquerdo estava roxo e levemente inchado, assim como a sua bochecha. Parece que não podemos depender da nossa cura acelerada.

Então, Lucien se levantou, ainda confuso, sendo ajudado por Vassa e Jurian, que eu nem tinha notado que estavam acordados. Azriel tombou para o lado e eu o segurei com mais força, passando seu braço por cima do meu ombro. Ele sempre esteve aqui para mim e eu sempre vou estar aqui por ele. Meu irmão gemeu de dor ao tentar respirar.

- Onde...? - Jurian perguntou, confuso. 

Atrás de nós, havia um enorme muro de pedra e musgo que bloqueava qualquer vista que poderia ter-se do outro lado. Se eu pudesse voar. Enquanto eu tentava pensar no que fazer, Jurian se voltou para Vassa e perguntou, preocupado:

- O que houve? - também a encarei por cima do ombro. Ela estava pálida e mal respirava. Eu conhecia aquela cara, infelizmente. Um ódio borbulhou dentro de mim quando a vi se encolher. Quem nos trouxe aqui também se achou no direito de abusar dela.

Tentando não perder a cabeça, mudei de assunto, olhando para uma pequena cabana de madeira velha que estava no meio do nada. Não havia árvores até chegar a quase um metro antes da casa. Trepadeiras subiam pelas suas paredes úmidas e antigas. A estrutura parecia uma porta de entrada para a floresta que se seguia logo atrás.

- Acha que tem alguém aqui além de nós? - perguntei, antes que as coisas se complicassem.

- Não sei se estaríamos fodidos ou salvos - Lucien murmurou, tentando ficar em pé sozinho, enquanto limpava o rosto com uma das mãos sujas.

- Estamos sem armas ou armaduras - Jurian me lembrou, se aproximando do meu lado livre.

- Então... Quem quer bater na porta? - o feérico caolho disse, se apoiando em Vassa enquanto as pernas voltavam a funcionar. 

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