Eu me sentia enjoado.
Dolorido.
Meu corpo queimava de dentro para fora.
Eu estava fraco e não conseguia sentir as minhas asas.
Ainda conseguia sentir os humanos abrindo cortes com facas enferrujadas ardentes na minha pele.
Ainda consigo os sentir colocando carvões ferventes dentro da minha pele e costurando-a.
Ainda sinto o humano usando uma bengala de ferro puro para quebrar as minhas costelas e os ossos das minhas asas.
Mas eu aguentaria isso tudo.
Sabendo que vou voltar para a minha parceira e para a minha filha.
E talvez...degolar o humano, mesmo que me custasse a vida.
***
Acordo em um susto, com dores pelo corpo e totalmente perdido. Olho para o meu tronco nu, vendo uma massa dura em cima dos inúmeros cortes cicatrizados. Assim que tento tirar uma das coberturas, um choque de dor percorre os meus músculos, me deixando ainda mais alerta.
- Deixe isso aí - uma fêmea me diz. Acho que já vi essa história antes.
Por um instante, acho que estou alucinando. Então, olho ao meu redor. Era uma cabana velha, mofada e suja. As tábuas de madeira já estavam verdes de tão antigas e o teto estava cheio de remendos. Eu estava deitado em cima de um banco de madeira áspera. Dessa forma, a tal fêmea se aproxima de mim, com um pano nas mãos e uma feição nada gentil.
Ela era corpulenta e parecia mais alta do que a maioria das fêmeas que estou acostumado a ver. Porém, o que me deixava surpreso eram suas enormes asas penosas brancas. Elas pareciam illyrianas, mas tinham penas. A fêmea de orelhas redondas parou do meu lado.
- Você brincou com alguém que não deveria - ela disse, jogando o pano úmido gelado em mim. Antes que ele caísse no meu peito, o peguei. A fêmea sorriu e ajeitou o cabelo castanho cacheado - Pelo menos ele não arrancou os seus dentes.
- Onde estou? - pergunto, com a garganta seca e os lábios rachados, porém ela me ignora.
- Tire as ervas antes que petrifiquem completamente. Se não vai ter que tirar com uma faca - ela andou até a mesa meio afastada e pegou uma jarra de barro, bebendo o seu conteúdo direto do gargalo com uma velocidade impressionante, sem me dar atenção. Se foi treinada por algum illyriano, explicava a sua brutalidade.
Resolvi acatar e passei o pedaço de pano velho em cima das feridas. Em questão de instantes, a massa sólida se amoleceu e derreteu, descolando da minha pele. Abaixo dela, onde deveria ter uma cicatriz, não havia qualquer resquício ou indicação de ferimento, mesmo que antigo.
- Respondendo a sua pergunta, você está no Curral.
- Curral? - continuei a remover as ervas solidificadas do meu corpo.
- É como os humanos babacas chamam.
- Onde está o meu irmão? - perguntei, quando o último curativo se descolou, aglutinando no pano, que tinha cheiro de mofo.
- Com o Koa, o Duke e aqueles seus outros amigos que vieram com você - ela disse, colocando a jarra na mesa com força, como se fosse uma simples caneca de bar, passando o antebraço pela boca, limpando-a. Coloco o pano em um canto do banco e tento me levantar.
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Corte de Amor & Magia
FanfictionPs.: Continuação direta de "Corte de Sombras & Cura" e "Corte de Céus & Guerras". Após os eventos da Guerra de Hybern, Lizzie e Azriel tentam se adaptar como um casal, lidando com as dificuldades da nova vida e da paz crescente. Porém, as coisas não...