Corte de Amor & Magia

Capítulo 14 - Lizzie (Parte 1)

Ainda bem que isso passou rápido. Ainda me sinto extremamente desconfortável com as outras mães que nos encaravam enquanto esperávamos para começar a prova de admissão da escola que Az me indicou. Nunca fui à escola e tenho meus motivos para odiá-la, mas, mesmo assim, acatei o pedido do meu parceiro para confirmar as minhas suspeitas.

A escola tinha uma fachada bonita e um grande jardim com macieiras na porta. Eu e Honey estávamos nervosas quando entramos no saguão principal. Já havia alguns pais e mães que estavam esperando para irem embora quando chegamos. Ao nos aproximarmos do balcão, começaram os murmúrios.

- Olá - cumprimentou uma das professoras, com cabelos castanhos lisos e trançados em pequenas filas coloridas - Meu nome é Wanda. Sou uma das professoras. Vocês devem ser as Ash, não é?

- Exatamente - respondi, ignorando as fofocas que as famílias faziam pelas minhas costas. Honey apertou a minha mão com força, com medo - É um prazer.

- Igualmente - Wanda riu, jogando as tranças coloridas para trás das costas - A prova vai começar daqui a dez minutos, os pais ficam esperando aqui no saguão por mais ou menos uma hora e meia que é o tempo do teste - então, ela se voltou para a Honey - Vamos para a sala?

A menina ergueu a cabeça para mim, pedindo permissão. Levemente, assenti. Honey soltou a minha mão e acompanhou a professora para uma sala que ficava três portas depois de onde eu estava. Tranquilamente, ou fingindo estar assim, me sentei em uma das cadeiras acolchoadas, pegando o livro do meu pai que eu havia trazido para mostrar para Amren, lendo-o para confirmar as minhas pistas. De vez em quando, eu mexia na saia do meu vestido preto bordado com flores rosas e brancas, tentando fazer com que o incômodo passasse.

Ao meu redor, eu escutava comentários do tipo: "Soube que ela era casada com um humano"; "Não, o pai da garota é o antigo rei de Hybern. Todo mundo sabe disso"; "Devem estar mantendo ela aqui por causa daquele acordo de guerra"; "Não, ela se casou de novo"; "Meu irmão me contou que elas estão morando na Mansão do Grão-Senhor" e "Deve ser uma das putas dos guerreiros. Soube que estão levando sacerdotisas para lá".

Eu tentava não me meter e fingir que não estava ouvindo. Sei que não acabaria bem se me metesse. Cruzei as pernas, lendo o livro desde o início, passando pelas ilustrações antigas do meu pai. Como eu sentia falta deles. Inconscientemente, abro a página em que haviam ilustrações da minha mãe com diferentes facetas e, anexado com cola, um dos seus poemas para o meu pai.

"Sempre achei que a vida tivesse três fases: A infância, a juventude e a maioridade.

Mas nunca imaginei que houvesse uma antes de você e uma depois de você.

O que posso dizer pode ser um pouco clichê.

Porém, saiba que aprendi a amar, graças a sua teimosia, com muito mais facilidade."

Assim que a uma hora havia passado, Honey apareceu, com as mãos enfiadas nos bolsos do vestido, bem alheia e calada. Talvez a prova tenha sido ruim. Ela segurou a minha mão e nós fomos embora. Eu não iria falar nada sobre o que tinha escutado no saguão dos outros pais, pois não quero arrumar problema com ninguém agora.

Nós caminhamos seguindo o Rio do Arco-Íris, atravessando uma ponte pequena e indo em direção aos pequenos prédios da cidade. Nós subimos as escadas até o apartamento de Amren, que havia dito a mim para visitá-la às nove horas. Agora eram oito e cinquenta e sete. Um pouco cansada da caminhada, bato na sua porta.

- Entre - escuto a sua voz do outro lado - Está aberta.

Giro a maçaneta, entrando. Amren estava sentada na sua mesa de jantar pequena que ficava próxima a porta. Na minha direita, ficava um cômodo em "L" que era a cozinha. No outro lado, tinha a sala de estar, com um sofá e uma lareira. No fundo, tinha uma porta, que dava acesso ao seu quarto. Apesar de pequena, o apartamento me parecia bastante confortável com os tons pastéis das paredes e dos móveis claros. Não esperava isso de Amren, para falar a verdade. Achei que seria algo parecido com a Cidade Escavada.