Capítulo 6 - Azriel

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***PÓS SOLSTÍCIO***

Imagino que não haja coisa tão boa quanto passar um tempo em família. Pelo menos, com a família certa. Apesar de possuirmos laços de sangue com outras criaturas, não significa que devemos os aceitar se nos fazem mal. Sinceramente, gosto de estar ao lado daqueles em que escolhi como minha família e não me arrependo nem um pouco.

Na manhã recém nascida pós o Solstício, fui com Honey e Lizzie para a Casa do Mar, onde as duas se ajeitaram e voltaram a dormir, enquanto eu voei para as Montanhas Illyrianas, onde Rhys e Cas me esperavam para discutir a questão dos treinos das jovens moças. Haviam poucas delas lá, mas já era um começo para que outras se juntassem a elas.

Então, meio alheio, voltei para lá. Foi um ótimo exercício para alongar as asas. Quando cheguei, tirando as botas enlameadas e a armadura, vi a minha parceira e a minha filha cozinhando o almoço e rindo um pouco. Apenas tirei o busto da couraça, continuando com as calças de couro illyriano, me juntando a elas com urgência.

Pelo o que tinha parecido, Honey não tinha notado a minha presença, diferentemente de Lizzie, que me encarava com um olhar ameno e tranquilizante. Dessa forma, fui até a menina, que estava sentada em uma das altas cadeiras de frente para a bancada de mármore que dividia a sala de jantar da cozinha, e a abracei por trás, a assustando um pouco. Logo, o susto se transformou em uma risada livre e alta. Eu estava tão feliz que dei um beijo na sua bochecha, a trazendo mais para perto do meu peito.

- Para, Az! - ela gritava em meio às risadas - Tá fazendo cócegas!

- Ah é? - perguntei, percebendo que eram as minhas sombras que coçavam a sua pele macia de criança. Então, sem me afastar, vi que tinham pequenos pedaços de alho espalhados pelo balcão que estavam sendo descascados manualmente por Honey - O que estão fazendo?

- Hasselbackspotatis, Far I Kat e arroz com creme de leite - Lizzie respondeu, mexendo em uma grande panela algo que tinha cheiro de cordeiro. Não conhecia a metade daqueles pratos, mas pelo cheiro parecia ser muito melhor do que ervilhas e purê. Lizzie percebeu a minha confusão e revirou os olhos ironicamente, apontando a ponta de uma colher de madeira para a menina - Pedido da Honey, não meu.

- Parece delicioso - comentei, escondendo um leve sorriso. Parece que o meu plano estava funcionando. Honey então ergueu o pescoço e levou os lábios até a minha orelha, querendo me dizer algo. 

- É muito gostoso - ela sussurrou - Ela só não quer admitir que também queria comer.

Engulo uma risada, ajeitando a postura. Com um leve sorriso, vou em direção a Lizzie e passo os meus braços ao redor da sua cintura, olhando por cima do seu ombro o que tinha um caldo castanho escuro cheio de pedacinhos de salsa boiando. Lizzie relaxa os ombros, respirando fundo.

- Está com fome? - ela me pergunta, enquanto a Honey continua a abrir os dentes de alho com as mãos.

- Pouca - confesso, deixando um beijo no seu ombro.

- Pelo ritmo que isso está tomando, vai estar pronto só para o jantar - ela comentou, meio decepcionada - Posso fazer um...

- Não precisa - falei, a interrompendo - Posso esperar.

- Deve ter alguns biscoitos do café da manhã, se a Honey não acabou com tudo - a fêmea diz, olhando para os armários do teto como se tentasse se lembrar onde tinha os colocado.

- Precisa de ajuda? - pergunto, soltando sua cintura, quando ela se inclina um pouco sobre o caldo, cheirando-o.

- Preciso temperar o cordeiro - ela diz, apoiando a colher de madeira na beirada da pia, abrindo um dos armários acima da sua cabeça e pegando um pequeno jarro transparente de vidro com um pouco mais de seis biscoitos com gotas de chocolate gigantes. Lizzie o coloca em cima da bancada que também funcionava de mesa, sorrindo para mim sem mostrar os dentes. Vou até o recipiente e tiro um dos biscoitos, beliscando uma das laterais.

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