Capítulo 19 - Lizzie

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- Melhor se cobrir, menina! - Amren gritou para mim, se aproximando - A não ser que queria congelar até a morte!

- Tem certeza que esse é o lugar certo?! - gritei de volta, segurando firme no meu casaco de pele e na barra de segurança da proa do barco dos Centauros. Eu só via geleiras e uma névoa densa branca circulando tudo à nossa volta. Atrás de Amren, ouvi um relincho de Marx enquanto ele saía de uma das salas, esbarrando com o frio horrível.

- Absoluta - ela disse, vindo para perto de mim. Juntamente com Marx, Varian também saiu, completamente embolado no seu casaco branco e utilizando quase oito camadas de peles para se esquentar. Pelo seu rosto, ele não estava acostumado com o frio.

- Precisa de mais um casaco, Varian? - perguntei, tentando ser gentil. Tremendo de frio e puxando o seu gorro com as mãos enluvadas, ele negou com a cabeça. Ele descobriu os planos de Amren e se recusou a nos deixar ir sozinhas. Se a própria Amren não conseguiu o convencer do contrário, quem poderia?

- Já estamos chegando, liefde - ela disse, ao mesmo tempo em que Marx tirava do bolso da sua jaqueta de couro uma luneta prateada velha, olhando para o horizonte.

- Fico feliz em dizer que esse demoniozinho anão está certo! - ele falou, empolgado. 

Varian, mesmo que morrendo de frio, o encarou com um ódio genuíno. Enquanto eu só tive vontade de rir, me segurando até o último suspiro. Amren, com as feições ranzinzas, se aproximou, me puxando pelo braço para um canto.

- Tem certeza que é mesmo aqui? - a questionei novamente, baixinho - Esse negócio não estava com a Miryam e o Drakon?

- Mudamos de última hora - ela confessou. Posso não ser tão fã dela quanto antes, mas respeito que ela saiba mais do que eu - Quando Bryallin começou a buscar os Tesouros, eu e a Madame decidimos mandar o Caldeirão para cá, temendo que ela o procurasse para fabricar mais Tesouros Nefastos ou tentasse mergulhar lá novamente, buscando a juventude perdida.

- E o que é esse lugar? - perguntei, puxando o capuz mais para perto da cabeça, impedindo que a neve fina cobrisse os meus cabelos trançados. Por baixo daquela quantidade imensa de peles, usávamos o couro illyriano e muito aço. Espero que seja tão seguro quanto afirmaram.

- Moças e garanhão, chegamos! - quando ela iria me dizer, Marx gritou. 

Nós nos viramos para onde ele olhava, dando de cara com uma enorme geleira que surgiu em meio a neblina densa. De repente, o navio atracou no gelo, quase nos fazendo cair com o impacto. Me agarrei na barra de segurança e Amren se segurou na minha cintura. Assim que o navio se estabilizou, o Centauro continuou:

- Perdão! Deveria ter visto melhor! Essa porra de mastro me atrapalhou!

- Você está bem? - Varian já estava do nosso lado, ajudando Amren a se levantar, enquanto eu forçava meus braços a me erguer. Sem conseguir evitar, olhei para baixo, onde o gelo e a neve cobriam boa parte da proa. Parece que tinha uma pilha de neve na nossa frente que nos atingiu em cheio. Não conseguiríamos retirar o barco de lá tão facilmente.

- Estou - Amren respondeu, dando batidinhas na roupa para tirar a neve com as mãos completamente enluvadas.

- Vamos descendo! - disse Marx, descendo pela colina de neve que invadia a proa do navio. Engoli o enjoo e o segui, ignorando os olhares estranhos de Varian e Amren. Se eles não forem parceiros, desisto de tentar adivinhar - Precisa de ajuda, Vossa Graça?

- Não, Marx - respondi, passando a perna por cima da barra de proteção da proa, tentando chegar a onde ele estava - Mas obrigada.

- Serão apenas alguns minutos de caminhada, acho melhor carregar a senhora - ele disse, ajeitando o casaco.

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