Capítulo 7 - Lizzie

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Passeando pelas ruas de Velaris, percebi o quão perdida eu estava. Elain tinha pedido para me acompanhar, mas, ao passarmos na frente de uma floricultura ela se perdeu. A fêmea deve ter ficado umas oito quadras atrás, conversando com a florista com um entusiasmo genuíno. Fico feliz que o Cas tenha pedido (na verdade, implorado) para ficar de olho na Honey e praticamente me empurrado para fora da Casa do Vento para que eu "fizesse as minhas coisas femininas". Eles estavam escondendo algo. Isso eu tinha certeza.

Acho que andei por quase toda Velaris por me sentir entediada. Porém, pensando que essa cidade era relativamente pequena ao que eu estava acostumada, até que foi bem rápido. Olhei as vitrines das lojas, nada interessada em comprar alguma coisa, e caminhei um pouco.

Talvez a melhor parte do meu dia tenha sido quando fui a uma confeitaria e pedi uma bomba de chocolate e fui me sentar em um dos bancos do lado de fora, observando algumas crianças brincando de amarelinha perto do quarteirão dos artistas, ao mesmo tempo que ouvia um doce violino ser tocado na ponte que cruzava o rio Arco-Íris. Assim, não demorou muito para terminar de comer a minha comida, fiquei ali, sentada, apenas olhando as coisas ao meu redor.

De repente, uma criança se aproximou de mim, com um enorme sorriso, me estendendo um folheto muito bem ilustrado. Eu a encarei de cima a baixo, vendo suas roupas coloridas e o rosto pintado com uma base branca e com círculos laranjas.

- É algum festival? - perguntei, ainda lendo o panfletos.

- Não - o menino, que era um feérico inferior riu, exibindo um sorriso de pura alegria - É a nossa peça de teatro. Vai acontecer daqui a uma hora no Teatro Municipal.

- Você também vai participar? - ergui os olhos do papel, tentando ser gentil.

- Bem que eu queria, moça - ele resmungou, me fazendo rir - Hoje estou só entregando os papéis e chamando atenção com essa roupa... - ele coçou a cabeça, fazendo com que os guizos na ponta dos fios ruivos balançassem e fizessem barulho. Por fim, o menino bufou - feia.

- Não fale assim - o censurei, gentilmente.

- É que não gosto de laranja - ele segurou os papéis contra o peito.

- É, tem razão. Mas o azul e o verde ficaram lindos - os olhos do menino praticamente se iluminaram quando o elogiei. Machos... Tão diferentes, mas tão iguais.

- Então... Você vai ver a peça?

- Vou - me levantei, jogando o meu cabelo por trás dos ombros e ajeitei a majestosa branca saia rodada do meu vestido de decote quadrado e alças retas - Mas, por que não me mostra o lugar. Nunca fui a esse teatro e sinto que seria bom ter um guia.

- Bem que eu gostaria, moça - ele faz uma careta - Porém, meus pais vão me matar se eu não entregar tudo.

- Então, se é assim, te ajudo a entregar os folhetos.

- Jura?! - o menino faltava dar piruetas de tanta alegria. Assenti e estendi a mão. Alegremente, ele me entregou metade dos papéis que estava segurando - A propósito, meu nome é Tespis.

- Lizzie, é um prazer - respondi.

- Acho que conseguimos entregar tudo antes da peça começar, tudo por causa da minha técnica infalível.

- E que técnica seria essa, mocinho? - arqueei a sobrancelha, o seguindo alguns metros rio abaixo.

- Simples, vou dando cambalhotas até as pessoas ficarem extremamente encantadas por mim, aí você entrega os papéis - não me aguentei e ri. Tespis era aquele típico rapaz que não conseguia ficar parado em um só lugar, saltando pelas muretas e bancos, enquanto andávamos - Ou posso fazer um musical. Pessoas amam musicais. O que acha?

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