Capítulo 20 - Honey

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Eu estava dormindo...ou pelo menos, deveria. A noite toda escuto esses barulhos estranhos, parece que tem alguém arrastando algo pelo corredor. Isso também aconteceu na Casa do Vento. Achei que aqui seria diferente. Os passos do misterioso eram pesados e me deixavam com os pêlos da nuca arrepiados.

Inconscientemente, me viro para o lado contrário da porta, olhando para a parede e puxando meu cobertor até o pescoço. "Não é nada. Ninguém pode me machucar aqui", tento me lembrar. As estrelas no teto do meu quarto brilhavam levemente, me deixando ver os móveis do meu quarto.

De repente, escuto a porta atrás de mim se abrir. O rangido das dobradiças de ferro ecoa pela casa. Não era a Mana e o Tata. Eles não fazem barulho para entrar. Minha respiração encurta e meu coração gela dentro do peito. Engulo em seco, ouvindo os passos pesados da criatura se aproximando da minha cama. Eu não conseguia me mexer de medo. A cicatriz na minha coxa arde e a da minha bochecha coça. Não. De novo não.

Garras arranham o piso de madeira até...desaparecer. Lágrimas escorrem pela lateral do meu rosto pálido. Eu quero gritar por ajuda, mas o meu fôlego evapora dos meus pulmões. Tentando controlar o choro, bufo baixo um soluço que fica denso, transformando-se em vapor. Estava mesmo muito frio. Uma das minhas lágrimas congela na minha bochecha, queimando-a.

O som havia sumido. Fico com medo. Um medo que era incontrolável. Ainda com as mãos tremendo e soluçando, viro meu corpo em direção a porta. Ela estava fechada. Era tudo coisa da minha cabeça? Solto outro suspiro que congela no ar. Com o coração na garganta, me sento na cama.

Para ter certeza, olho à minha volta. Na verdade, eu tento. Assim que meus olhos para na frente da cama, congelo. Aos pés da cama, um par de grandes olhos brancos sombrios me encontram. Meus olhos vão se ajustando à escuridão à medida que a cabeça da criatura se ergue.

Graças às estrelas do teto, consigo ver a sua pelagem branca e o par de orelhas pontudas no topo da cabeça. Em volta dos olhos, haviam manchas pretas. Porém, o que mais chama atenção são os enormes dentes cristalinos e a sua boca monstruosamente gigante aberta. Sua comprida língua pontiaguda estava para fora de onde deveria estar. Ele parecia um cachorro magro com quase dois metros de altura. Da sua mandíbula, sangue escorria em meio a sua saliva, pingando no meu cobertor.

O monstro que já tinha me visitado antes aproximou a sua face da minha. Ele tinha cheiro de carniça e de morte. Eu estava com dificuldade de respirar, hiperventilado. A besta passou o focinho preto coberto por sangue do meu rosto, o cheirando. Eu já não conseguia mais evitar as lágrimas de medo.

Então, com uma das patas, com garras do tamanho da minha mão, ele puxou o cobertor para o chão. Eu não conseguia me mexer de tamanho pavor. Minhas mãos tremiam e a bile se forçava a sair pela minha boca. Assim, o monstro se afastou, me encarando. Parecia que eu não sabia falar.

A criatura voltou ao pé da cama, girando a sua cabeça em um círculo perfeito, ainda mantendo aquele sorriso maléfico e perturbado no rosto. Sombras densas saiam das suas costas magrelas, quase como tentáculos. E, em um único movimento, ele saltou em cima de mim. Eu consegui gritar de tremendo horror, porém, já era tarde demais para mim. O meu mundo então se tornou a escuridão mais medonha que alguém pudesse enxergar.

***

Confusa e suada, abro os olhos. Sinto um chão de pedra frio contra o meu rosto. O cheiro de cadáver e poeira passa pelas minhas narinas. Ainda meio desorientada, uso meus braços para me levantar. O lugar parecia uma espécie de cofre. Haviam criaturas aladas, semelhantes às gárgulas que eu tinha visto nos meus sonhos.

O local era escuro, exceto a uma única luz feérica que se encontrava no centro do salão. Uma mulher de cabelos pretos lisos, que flutuavam como se ela estivesse nadando no fundo do mar, estava parada de costas para mim. Em pé, caminhei na sua direção. Achei ser a Mana, mas quanto mais eu me aproximava, mais alta ela parecia. Não era ela.

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