Capítulo 12 - Azriel

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Havíamos embarcado primeiro que os Caçadores e nos separamos. Espero nunca mais vê-los de novo. Era um barco pequeno, mas nos cabia perfeitamente para a viagem de apenas algumas horas, graças aos conhecimentos de Jurian que nos guiou pela corrente marítima, acelerando a viagem.

Assim que as coisas se acalmaram um pouco, fui até Lucien, que estava encaixando o olho de metal dourado no rosto. Eu sabia o motivo dele estar tão afastado do grupo. Tinham dois motivos. O primeiro, era relacionado ao que houve durante o confronto.

Nós estávamos tentando entrar dentro da fortificação, arrancando cabeças de demônios e protegendo a retaguarda um do outro. Até que conseguimos. Foi meio complicado, mas já participei de batalhas mais complicadas. No momento em que entramos, uma horda daqueles demônios começou a nos perseguir.

Sem muita escolha, corremos pelos corredores, procurando algum lugar para nos abrigarmos, pois lutar contra eles era praticamente impossível. Contudo, fomos rapidamente encurralados pelos bichos demoníacos. Sem tempo para pensar, ergui a minha lâmina que sobrava na minha mão, me preparando para o confronto.

No entanto, assim que olhei para o lado, vi que Lucien hiperventilava, estando com as pontas dos dedos luminosas e cobertos por pequenas chamas vermelhas e olho bom ofuscado por uma luz dourada. Sabendo o que iria acontecer, protegi os olhos com os braços e dei um passo para longe dele. 

Não tive que esperar muito para que o feérico erguesse os braços e jogasse uma poderosa onda de fogo e luz na direção dos demônios que subiam um em cima do outro tentando nos pegar. Assim que tudo sumiu e os gritos de desespero das criaturas cessaram, pude retirar os braços dos olhos, aliviado por não ter sido obliterado.

O corredor inteiro que estava cheio de pinturas e outros tipos de decorações, como móveis e tapetes, simplesmente desapareceu. As paredes tinham perdido toda a camada de tinta e papel de parede e o chão estava todo chamuscado, da mesma forma que as janelas foram estouradas.

Assim que olhei para mim, percebi que um líquido quente e que fedia a chorume tinha me sujado completamente, até mesmo meu rosto. Era o sangue daqueles bichos. Um pouco confuso, olhei para Lucien, que estava com as costas apoiadas contra a parede chamuscada, completamente limpo, e com um olhar de assustado.

Só agora ele caiu na real? Está bem na cara que ele não era filho do Beron, mas quem sou eu para julgar? Uma coisa que aprendi com o meu trabalho é que sou pago apenas para saber dos detalhes mórbidos, não para dar lição de moral. Não sou psicólogo.

Eu iria ficar com ele ou chamar alguém para levá-lo para longe, mas ouvi alguns gemidos de dor ecoando pelo corredor. Eu sabia de quem eram e não perdi tempo ao segui-lo, como um cão de caça bem treinado.

Porém, o outro motivo estava relacionado ao que ele suspirou. Parei ao seu lado, cruzando os braços, querendo uma resposta. Enquanto isso, Lucien examinava a mão intacta. Duvido que ele pensasse que tivesse esse poder. Chamei a sua atenção, o fazendo me encarar, meio fragilizado ainda.

- Como sabe que o Tamlin tem um bastardo? - perguntei, baixinho. No entanto, eu sabia que Cassian me ouvia muito bem de onde estava, assim como Vassa e Jurian. Lucien soltou um suspiro baixo.

- Na época, o Tam tinha só 33 anos. A família toda dele estava viva e eu era apenas alguém que viajava para lá em segredo, já que ficar em casa não era uma boa ideia. Eu deveria ter uns quinze anos na época. Por causa disso, eu ouvia muitas coisas que não gostaria.

- Então sabe quem é a mãe dele? - Cas perguntou de onde se apoiava no barco, encarando Lucien de forma curiosa.

- Quem era a mãe dele. E sim, eu sei - Lucien limpou a garganta - Tam conheceu uma jovem sacerdotisa que fazia de tudo para ascender dentre suas iguais. Nessa, eles dois se envolveram durante o Calanmai. Ela achava que estava dormindo com o Grão-Senhor e ele apenas com uma fêmea qualquer - Lucien cruzou os braços - Algumas semanas depois, Ianthe foi até ele, dizendo que estava grávida.

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