Capítulo 14 - Lizzie (Parte 2)

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Levantei mais cedo, muito antes do sol nascer e fui até o meu armário, vestindo uma roupa qualquer, só que mais folgada do que o normal, pois não gosto da minha silhueta muito marcada. Azriel estava dormindo de barriga para baixo, com as asas esparramadas pelo chão e com o braço pendurado para fora da cama, completamente apagado.

Infelizmente, as minhas botas estavam próximas ao seu lado da cama, por isso, em pequenos passos, tento pegá-los sem acordá-lo. Ele pode parecer que dorme como uma pedra, mas o mínimo barulho o acorda facilmente. Então, tomando cuidado, me estico e as botas pelo cano, sem pisar ou chegar perto das suas asas.

Assim que consigo, com um pouco de esforço, calço-as facilmente e vou em direção a porta. Não iria comer nada, porque estou sem fome e completamente enjoada. Respirei fundo, pensando que vou ter que aguentar a Madame umas duas horas até ela se cansar de mim e eu poder voltar. Porém, escuto no exato momento em que coloco a mão na maçaneta gelada da porta:

- Para onde vai? - a voz do meu parceiro ecoa pelo quarto silencioso como um trovão sonolento. No momento em que me viro, o vejo na mesma posição em que estava e com os olhos ainda fechados.

- Desde quando está acordado? - questiono, cruzando os braços. Ele não perguntava de forma autoritária, mas só querendo me proteger. Ou melhor, nos proteger.

- Não sei - ele diz, sem nem mesmo variar a respiração - Ainda não me respondeu.

- Na Madame. Volto daqui a algumas horas - respondo, alheia. No entanto, ele solta um suspiro cansado e joga o cobertor para o lado, revelando seu corpo tão nu quanto no dia em que nasceu, se sentando na cama, enquanto massageava as têmporas - É melhor voltar a dormir. Você não me parece bem.

- Vou com você - o lindo macho ergue os olhos na minha direção, apoiando o cotovelo numa das coxas, tentando manter o equilíbrio.

- Não.

- Não estou perguntando. Não vou te deixar sozinha, principalmente com aquela mulher maluca - reviro os olhos, irritada.

- Posso me virar - argumento, trincando o maxilar.

- Sei disso. Mas isso não vai me impedir e você sabe disso - ele deu um sorriso lateral para mim, se levantando - Preciso só colocar uma roupa.

E, mesmo tentado impedir, Azriel foi comigo. Nós atravessamos até uma deserta praia na costa da Primaveril e ele não hesitou ao me colocar nos braços e voar comigo pelo resto do caminho em direção à Mansão da Madame. Ele tinha me feito colocar uma capa de pele quentinha e pesada, cobrindo meu corpo completamente e me impedindo de sentir a neve que caia docemente nesta madrugada escura, e também um par de luvas de algodão preto.

Assim que pousamos ali, com as minhas botas de couro illyriano, internamente forradas com lã de ovelha extremamente quentes, afundando na neve fofa da entrada. Az não se importou ao segurar a minha mão e me ajudar a subir os degraus, como um cavalheiro, enquanto eu me preocupava em segurar a barra do meu vestido para não molhar com a neve.

Azriel foi quem bateu à porta, já aborrecido por ter levantado cedo e por ter deixado a Honey sob a supervisão das Sombras na nossa ausência. Enquanto escutava os passos apressados de Lúcius se aproximarem, ajeitei o manto de pele nos meus ombros, sentindo frio. De canto de olho, vi o Az arquear a sobrancelha de forma sarcástica para mim, escondendo um sorriso ao mesmo tempo em que eu esfregava as mãos uma contra a outra por baixo da capa, como se dissesse: "Eu tinha razão". Macho convencido.

Enfim, a porta se abriu, mostrando o velho Lúcius, nas suas roupas habituais e com a testa ensopada de suor. Ele estava com febre ou doente? O homem abriu a porta e nos deixou entrar, meio nervoso. Isso era estranho. Com cuidado, puxei o capuz, sentindo o calor do lugar. Lúcius se ofereceu para retirar o meu casaco e eu aceitei, por pura educação. 

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