Capítulo 3 - Lizzie

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***DOIS DIAS***

Não achei que seria tão doloroso menstruar. Eu nunca tinha tido essa oportunidade, porque não tive útero durante muito tempo. Porém, garanto que não é tão ruim quando parir um filho. Por isso, agradeço a Grande Mãe. Faltavam poucos dias para o Grande Solstício e eu estava um tanto quanto...ansiosamente ansiosa, por que não consegui fazer os preparativos que me dispus a fazer.

Ontem, entreguei os presentes das gêmeas, pois elas iriam para um tipo de retiro espiritual naquela noite. Acho que Cerridwen e Nuala ficaram surpresas. Espero que gostem dos presentes. Elas me ajudaram muito e achei que seria um bom jeito de agradecer. Não vi meu parceiro o resto do dia, afinal o resto do trabalho o ocupou muito. Sabendo que ficaria a tarde inteira sozinha, decidi ir para a casa de Feyre, para tentar ajudar e fazer companhia.

Feyre, que estava sozinha com Elain, em um clima nada agradável, nos deixou entrar e ignorando um pouco o fato de eu estar carregando uma sacola de linho nos braços. Honey cumprimentou as tias e, parecendo querer sair um pouco, Elain perguntou se a menina poderia ajudá-la a fazer alguns arranjos para os guardanapos, pois as gêmeas sombrias não estavam aqui para realizá-lo.

Feliz, permiti. As duas, entre sussurros e risadinhas, subiram as escadas, em direção ao quarto dela. Talvez eu consiga fazer as minhas coisas, finalmente. Dessa forma, perguntei se Feyre tinha alguma tinta que poderia me emprestar, por que tinha me esquecido de comprar as minhas. Ela afirmou e foi às buscar, enquanto eu arrumava os materiais para a minha lanterna em cima da mesa de jantar. Eu deveria fazer isso logo antes que os outros chegassem para o jantar que iniciava o Solstício.

- Vai pintar algum presente? - Feyre me perguntou, voltando com uma pequena maletinha com algumas cores primárias de tinta, dois pincéis e uma paleta para misturas as cores. De dentro da sacola, tirei uma garrafa de bebida, que parecia água, mas estava longe de ser algo assim.

- Não exatamente - peguei uma fita azul dentro da sacola e, a apoiando em uma das cadeiras, prendi meu cabelo em uma trança para que não sujasse de tinta. 

Eu usava um vestido azul escuro, com mangas boca de sino e não haviam alças, sendo quase que um tomara que caia. Eu estava varrendo os armários essa manhã para encontrar alguma roupa decente e o achei. Ele era da minha mãe e, até onde sei, ela tinha esquecido na casa da Madame, o que a fez o guardar. Fiquei tão empolgada quando o encontrei, no entanto, como nem tudo são flores, minha mãe era muito mais magra do que eu (sendo realista, não sou tão assim acima do peso, só possuo uma pequena saliência na barriga, diferentemente das outras fêmeas da minha espécie, e quadris mais largos) e tinha os seios menores. Por isso, que ela me perdoe por tocar naquela relíquia, tive de afrouxar a costura. Feyre se sentou na minha frente, curiosa.

- Isso é alcóolico? - ela me questionou, apoiando os cotovelos na mesa.

- É sim - falei, indo até a cozinha, com a garrafa que eu peguei na Casa do Vento para conseguir trazer para cá, e pegando duas taças - Quer um pouco? Só vou adiantando que é muito forte.

- Quero sim - a fêmea disse gentilmente. 

Tiro a rolha e despejo na minha taça até passar da metade, enquanto na dela, coloco um pouco menos. Não quero criar intriga nem nada do tipo, afinal eu conseguiria fazer mais, mas não acho que Feyre iria conseguir beber tanto. Sempre achei engraçado as caretas que a minha mãe fazia todo Midsommar. Acho que existe um motivo para se chamar carinhosamente de "Lágrimas de Unicórnio". Volto para a sala e lhe entrego a taça, me sentando na minha cadeira.

Assim que me ajeito, dou uma cheirada no líquido transparente, que chega a queimar os pêlos das minhas narinas. Decidida, dou o primeiro gole, tentando me acostumar com o gosto doce e que parece me dar um soco no estômago. No momento em que engulo, a bebida parece derreter a minha garganta e me faz lacrimejar um pouco. Coloco a taça em cima da mesa e observo Feyre, que leva o álcool até os lábios e, mal dá um gole antes de começar a tossir, como se tivesse engasgado.

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