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Maraísa POV

Sinto a presença da tristeza me acompanhar dia após dia. Falta alguma coisa em mim, não sei se é saudade ou apenas um vazio, eu não consigo explicar o que sinto, eu só... Não sei.

Encaro o teto tentando controlar as vozes dentro da minha cabeça que insistiam em querer falar todas ao mesmo tempo. Paro por um segundo para analisar tudo aquilo que um dia sonhei me tornar, todos os lugares que um dia sonhei em conhecer, a profissão que escolhi me formar, os filhos que sonhei em ter, o casamento planejado nos mínimos detalhes e paro pra analisar a realidade que a vida me trouxe, uma trajetória repleta de erros, inconsistências, dores, fardos, só me faz ter a certeza de como o destino é cruel com nossos sonhos e nem sempre somos levados para a direção que tanto almejamos e nesse caminho que percorremos por onde passamos fica o rastro de frustração por não conseguir realizar nossos próprios sonhos.

Me sento no sofá olhando em direção à cama e a vejo vazia, a porta do banheiro está aberta e a luz apagada então percebo que estou sozinha.
Pego meu celular e volto a me deitar, olho no visor e me assusto ao vê que já são quase duas da tarde, sabia que estava cansada mas a esse ponto. Desbloqueio o aparelho vendo algumas mensagens de Marília se explicando do por que não estar aqui e a hora que tenho que chegar no jantar, apenas a respondo com um "ok" e vou até o chat de Lauana leio suas mensagens mas não respondo resolvo ligar pois também queria falar com minha menina, o telefone chama algumas vezes até que ouço a voz da minha amiga na outra linha.

Ligação on:

— Amiga, graças a Deus. Eu estava preocupada você não respondeu minhas mensagens sua puta. — Ela diz tentando soar brava.

— Me desculpa, o vôo foi longo e cansativo confesso que não consegui tempo pra lhe responder. — Digo com a voz rouca ainda de sono.

— Não faça mais isso, ou eu vou bater na sua fuça. — Ela diz rindo.

— Quanto amor. — Digo rindo — Onde está minha filha?

— Está aqui, tá tomando café. — Ela diz e eu começo a ouvir os gritos afobados de Maiara ao fundo.

— Mamãe... É mamãe... Titia é a mamãe... Me dá titia. — Ela fala num fôlego só.

— Calma Maiara, espera deixa eu col...

— Dá titia.

— Espera não puxa o celular.

— MAMÃE... TÁ OVINDO EU ? — Ela diz gritando.

— Não grita, ela tá ouvindo. Cê tá babando o celular, deixa eu colocar no viva voz.

TOTAAAA... ME DÁ — Ela começa a chorar e eu começo a rir do seu afobamento.

— Pronto, pronto. Toma sua apressadinha, meu Deus. — Lauana diz por vencida.

— Mamãe? — Ela diz com a voz chorosa.

— Oi meu amor, como você está?

— Bem, tô cum xodade.

— Eu também estou com muita saudade meu bebê, prometo que volto logo, tá?

— Tá bom.

— Você está se comportando?

— Xim.

— MENTIRA. — Ela grita no fundo.

— Tô xim mamãe, eu zulu.

— A cara nem treme né?

— Eu acredito em você meu amor, você é um anjinho. — Escuto Lauana da uma risada alta.

— Pois volte logo pra buscar seu anjinho antes que eu suba pelas paredes.

— Pala titia. — Ela diz irritada.

— É não gostosa, titia tá brincando. — Escuto os barulhos dos beijos na bochecha dela e a risadinha sapeca.

— Quanto amor, quero dar beijinhos quando eu voltar também. — Digo já sentindo a dorzinha da saudade bater.

Vo da muitos bezinhos mamãe.

— Mal posso esperar meu bebê. A mamãe vai precisar desligar agora, tenho que me arrumar para ir trabalhar, tá bom?

— Tá bom mamãe.

— Se cuida e pode perturbar bastante a titia Lau a mamãe deixa.

— EU OUVI SUA ANÃ. — Ela grita do fundo fazendo eu e Maiara rir.

— Chau amo vocês.

— chau! Amamos você.

Ligação off:

Fico alguns segundos olhando a tela do celular e rindo sozinha. Maiara sempre me faz lembrar que eu posso estar no mar de tristeza que for enquanto eu tiver minha metade terei forças pra enfrentar tudo nessa vida. Respiro fundo tentando buscar algum resquício de coragem para levantar. Sinto o celular vibrar encima do meu peito, pego olhando o visor vendo o nome na tela e já que ela não está aqui reviro os olhos o máximo que posso quase sinto que vou ter uma convulsão.

Ligação on:

—  Alô. — Digo sem ânimo algum.

Tem algum problema com seu celular? Já liguei um milhão de vezes. — Diz com irrigação.

Eu estava em outra ligação.

Com quem? — Ela diz já querendo alterar a voz, que petulante.

Deseja alguma coisa senhora Mendonça. — Pergunto mudando de assunto.

Sim, que me responda quando faço uma pergunta, com quem estava falando?

Senhora, minha vida pessoal não lhe diz respeito, então ao menos que me diga o que quer eu vou desligar. — Digo já sem paciência.

Viu meu recado? — Ela pergunta a contra gosto.

Vi, Era só isso ? — Digo ríspida.

Já tomou café ou almoçou? — Pergunta abaixando a guarda.

Não. — Digo num tom mais baixo.

Peça algo para comer, não pode ficar tanto tempo assim sem comer mas, peça algo leve visto que logo mais teremos que ir ao jantar.

Claro, pedirei sim. — Ela só pode ser bipolar uma hora está como um animal selvagem é petulante e autoritária e num piscar de olhos se torna gentil e cuidadosa.

Tudo bem, estou resolvendo os últimos preparativos então não voltarei para o hotel vou mandar o motorista lhe buscar e nos encontramos no jantar.

Okay, estarei lá.

O jantar é às seis EM PONTO. Não se atrase. — Diz dando ênfase no " em ponto" é impossível não revirar os olhos.

Serei pontual. — Digo desligando.

Ligação off:

Minha Salvação | MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora