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Estava sentada no banco do passageiro, enquanto Emilly dirigia rumo a fazenda de Marília. O clima denso ainda prevalecia entre nós. A algum tempo ela mudou completamente, mostrou-se extremamente ciumenta, mostrando-se até mesmo agressiva em alguns momentos. Muito diferente da amiga e namorada doce, amorosa e adorável que eu conhecia.

No início, eram apenas discussões, gritos e alguns dias sem nos falar, mas nada que alguns atos de carinho cobertos de esperança não resolvessem.

Com o tempo, foi ficando mais difícil de lidar. Seu ciúmes foi ao extremo, se tornando possessiva e violenta. Chegou ao ponto de eu não poder olhar para o lado, empurrões e pequenas agressões se tornaram frequentes, mas eu sempre relevava, tentava lutar por nosso relacionamento.

Eu estaria mentindo se dissesse que isso não dói, que não machuca. Não dá pra fingir que nada disso acontece e que às vezes não dá vontade de voltar no tempo pra mudar as coisas.

Já não a amo mais como antes. Pra ser sincera, eu nunca a amei. Sentia um carinho e amizade genuína por ela mas que aos poucos foi se esvaindo, conforme eu conhecia mais o seu verdadeiro eu. Sinto-me completamente encurralada, por mais que eu procure, não consigo encontrar uma brecha para escapar desse relacionamento. Sei que não tenho muito tempo, também sei que Marília não vai esperar uma vida para que eu me resolva com Emilly. Preciso dar um basta em um relacionamento que a muito já não me toca.

Eu sempre amei Marília e sempre vou amar, honestamente, verdadeiramente. Eu quero tanto ela de volta e viver todas as coisas mais importante que o amor pode nos oferecer. O seu sorriso, a sua maneira de me tratar, sempre tão atenciosa e protetora, o ato mais genuíno e amoroso em ter adotado minha filha, e mesmo sem saber se tornou uma mãe incrível para Maiara. Eu me apaixonei por suas qualidades, seus defeitos, por cada detalhe dela. Esse coração aqui só bate por ela, ele pertence somente a ela. Estou a amando tanto.

Estou decidida a romper e cortar todos os laços com Emilly, por mais que isso me custe. Não posso me manter presa a alguém que não amo, que não desejo. Por mais que o medo da sua reação me consuma, irei ser destemida e não negligenciar mais o meu coração.

O silêncio pairava no ambiente, olho para minhas mãos vendo meu dedo enfaixado devido Emilly ter o torcido e provocando uma luxação. Sinto o quão perigoso esse seu comportamento é, sei que se não tomar uma atitude agora não terei mais controle sobre nada. Não posso deixar que minha filha seja exposta a esse perigo, não posso me submeter a um relacionamento abusivo.

E mesmo tendo diversos motivos para acabar com o que temos, sinto-me de mãos atadas, encurralada.Terminar um relacionamento não é simplesmente parar de andar de mãos dadas e dizer: Tchau, até nunca mais.

Depois de pouco mais de uma hora de estrada Maiara começa a ficar inquieta, viajar sempre é muito estressante para ela.

— Mamãe, telo pepeta. — Diz coçando os olhinhos, já querendo dormir.

— Não! — Emilly diz antes que eu possa responder.

Olho pra a mesma que estava focada na estrada.

— Eu telo minha pepeta. — Sua voz embarga já querendo chorar.

Ignoro completamente o que Emilly disse e entrego sua chupeta, ela leva a boca e fecha os olhos pronta para dormir.

— Você precisa parar de tratar ela como um bebê, ela precisa crescer.

— Você sabe da condição dela, retirar a chupeta não vai mudar nada.

— Com você a tratando assim, com certeza não vai.

Não me dou o trabalho de respondê-la, tentarei evitar ao máximo uma discussão.

Minha Salvação | MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora