Ellis precisava agradecer muito aos gêmeos Weasley pelo Mapa dos Marotos. Eles emprestaram para ela apenas duas vezes, mas foi o suficiente para a salvarem de grandes perrengues com Filch e Madame Nor-r-ra nas saídas durante a noite. Não esbarrou com nenhum dos dois no caminho até a escada para o terceiro andar. Lá, porém, deparou-se com Pirraça se balançando a meio caminho, saltando a passadeira para as pessoas tropeçarem.
- Quem está aí? - perguntou de repente e apertou os olhos pretos e malvados. - Sei que está aí, mesmo que não consiga vê-lo. Você é um vampiro, um fantasma ou um estudante nojento?
E ergueu-se no ar e flutuou, tentando ver alguém.
- Eu devia chamar o Filch, eu devia, se alguma coisa está andando por aí invisível.
Ellis continuava escondida na passagem mais próxima da sala onde Fofo estava. Olhava, por meio do mapa dos gêmeos Weasley, onde seus amigos estavam. Harry, Rony e Hermione haviam chegado no mesmo momento que ela e era por eles quem Pirraça procurava.
Harry teve uma ideia repentina.
- Pirraça. - disse num sussurro rouco. - O Barão Sangrento tem suas razões para andar invisível.
Pirraça quase caiu, em choque. Recuperou-se a tempo e saiu planando a trinta centímetros dos degraus.
-Desculpe, sua Sangunidade, senhor Barão, cavalheiro. Falha minha, falha minha não o vi, claro que não, o senhor está invisível. Perdoe ao velho Pirraça essa piadinha, cavalheiro.
- Tenho negócios a tratar aqui, Pirraça. Fique longe deste lugar hoje à noite.
- Vou ficar cavalheiro, pode ter certeza de que vou ficar. Espero que seus negócios corram bem, Barão, não vou perturbá-lo.
E partiu ligeirinho.
Alguns segundos depois, estavam lá, no corredor do terceiro andar. Ellis também aproveitou a oportunidade para sair do seu esconderijo e encontrá-los. Estavam nervosos demais para qualquer tipo de cumprimento.A porta já foi aberta.
- Bom, aqui estamos. - disse Harry baixinho. - Snape já passou por Fofo.
A visão da porta aberta por alguma razão parecia causar neles a impressão do que os aguardava. Harry e Ellis se olharam, então viraram-se para os outros dois.
- Se vocês quiserem voltar, não vamos culpa-los. Isso é coisa minha, de Ellis e de Voldemort. Podem levar a capa, não vou precisar dela agora.
- Não seja burro. - respondeu Rony.
- Vamos com vocês. - disse Hermione.
Harry empurrou a porta.
Ela rangeu baixinho. Os três focinhos do cachorro farejaram furiosamente em sua direção, ainda que o bicho não pudesse vê-los. Todos os quatro estavam espremidos de baixo da capa.
- O que é isso nos pés dele? - sussurrou Hermione.
- Parece uma harpa. - respondeu Rony. - Snape deve tê-la deixado aí.
- Snape não sabe tocar harpa. - afirmou Ellis, deixando todos surpresos.
Harry tirou a flauta que trouxe nos bolsos e a levou aos lábios. Não era realmente uma música, mas as primeiras notas os olhos da fera começaram a se fechar. Harry nem chegou a tomar fôlego. Lentamente, os rosnados do cachorro cessaram, ele balançou nas patas e caiu de joelhos, depois estirou-se no chão, completamente adormecido.
- Continue tocando. - disse Rony quando saíram de baixo da capa.
Sentiram o bafo quente e fedorento do cachorro ao se aproximarem de suas cabeças.
- Quer entrar primeiro, Hermione? - perguntou Rony ao aproximar-se do alçapão.
- Eu não!
- Tudo bem. - ele cerrou os dentes e passou com cautela pelas pernas do cachorro. Abaixando-se, puxou o anel do alçapão, que se abriu.
- O que é que você está vendo?
- Nada, só escuridão. Não tem como descer, teremos que nos jogar.
Harry, que continuava a tocar a flauta, fez sinal para atrair a atenção de Rony e apontou para si mesmo.
- Você quer ir primeiro? Têm certeza? Não sei qual é a profundidade dessa coisa. Dá a...
Não conseguiu terminar. Ellis, enquanto ele falava, passou por cima de Fofo, espiou o alçapão e entrou, abaixando o corpo até ficar pendurada pelos dedos. Rony arregalou os olhos, surpreso. Ela foi tão rápida que ele não percebeu.
- Se alguma coisa acontecer comigo, não me sigam. Voltem e mandem Abbie a Dumbledore. Grito por vocês quando chegar lá embaixo.
E soltou os dedos. Um vento frio e úmido passou rápido por ela, que foi caindo, caindo, caindo e...
Pam. Com um baque surdo ela bateu em alguma coisa macia. Sentou-se e apalpou à volta, os olhos desacostumados a escuridão. Parecia que estava sentado em uma espécie de planta.
- Podem vir! A queda é macia, pode pular! - ela gritou, mas se arrependeu no segundo seguinte, era tarde demais para avisá-los. - Esperem! Esperem!
Harry foi o segundo a pular, deixando que Hermione continuasse a tocar a flauta. Depois veio Rony. E por fim, quando a música parou, Hermione pulou após o latido do cachorro. Ela caiu do outro lado de Harry.
- Devemos estar quilômetros abaixo da escola. - comentou.
- É realmente uma sorte que esta planta esteja aqui. - disse Rony.
- Levantem-se! - gritou Ellis.
- Olhem só pra vocês dois! - gritou Hermione.
Levantaram-se em um salto. Hermione lutou para chegar à parede úmida. A planta começou a se enroscar como gavinhas de uma trepadeira em volta dos tornozelos de todos. Quanto a Harry e Rony, suas pernas já tinham sido bem atadas por longos galhos sem que eles notassem.
Hermione conseguiu alcançar Ellis e desvencilhar antes que a planta a agarrasse pra valer. Agora, observava horrorizada os dois meninos lutarem para se livrar da planta, mas quanto mais se esforçavam, mais depressa e mais forte a planta enrolava neles.
- Parem de se mexer! - mandou Hermione.
- Isso é visgo do diabo! Quanto mais se mexerem, mais ela enrosca.
- Ah, fico tão contente que vocês saibam como se chama, é uma grande ajuda.
- Cala a boca, estou tentando me lembrar como matá-la!
- Bom, anda logo, não consigo respirar! - ofegava Harry, lutando com a planta que se enroscava em torno do seu peito.
Hermione olhou para Ellis.
- O que foi que o professora Sprout disse?
- Precisamos de fogo!
- Então acenda um fogo! - engasgou-se Harry.
- É.. é claro... mas não tem madeira... - murmurou Hermione.
- Ellis! - gritou Rony. - Faz alguma coisa!
- A varinha! - lembrou Ellis, a procurando nos bolsos. Arregalou os olhos, assustada, então viu, ao lado de Rony, sua varinha no chão. - Jogue para mim, Rony!
Ele esticou-se para pegá-la, mas se enroscou ainda mais. E a varinha foi engolida pela planta.
- HERMIONE, VOCÊ ENLOUQUECEU? - berrou Rony. - VOCÊ É UMA BRUXA OU NÃO É?
- Ah, certo! - disse Hermione, puxando sua varinha. Sacudiu-a, murmurou alguma coisa e despachou um jato de chamas azuis que usou em Snape contra as plantas.
Em questão de segundos, os dois meninos sentiram a planta afrouxar e se encolher para longe da luz e do calor. Torcendo-se, ela se desenrolou dos corpos dos meninos, que levantaram-se com a ajuda de Ellis, que os puxava para cima.
- Que sorte que vocês prestam atenção às aulas de Herbologia. - disse Harry.
- É, e que sorte que Ellis não perde a cabeça numa crise. "Não tem madeira", francamente.
- Por ali. - disse Harry apontando um corredor de pedra que era o único caminho que havia.
Só o que podiam ouvir além de seus passos eram os pingos abafados da água que escorria pela parede. O corredor começou a descer.
- Você está ouvindo alguma coisa? - cochichou Rony.
Um farfalhar acompanhado de ruído metálico parecia vir de um ponto mais adiante.
- Você acha que é um fantasma?
- Não sei... parecem asas.
Chegaram ao fim do corredor e depararam com uma câmara muito iluminada, o teto abobadado no alto. Era cheia de passarinhos brilhantes como joias que esvoaçavam e colidiam pelo aposento. Do lado oposto da câmara havia uma pesada porta de madeira.
- Você acha que nos atacarão se atravessarmos a câmara? - perguntou Rony.
- Provavelmente. - respondeu Harry. - Eles não parecem muito bravos, mas suponho que se todos mergulhassem ao mesmo tempo.. Bom, não tem remédio... vou correr.
Tomou fôlego, cobriu o rosto com os braços e atravessou a câmara correndo. Esperava sentir bicos afiados e garras atacando-o a qualquer minuto, mas nada aconteceu. Alcançou a porta, baixou a maçaneta, mas estava trancada. Hermione e Rony o seguiram. Fizeram força para abrir a porta, mas ela nem sequer se moeu, nem mesmo quando Hermione experimentou o feitiço de Alohomora.
- E agora?
- Ellis, o que você está fazendo aí? - eles viraram-se ao ouvir Hermione. Do outro lado da câmara, por onde entraram, Ellis continuava no mesmo lugar, parada, olhando para os pássaros.
- Não são pássaros. - ela avisou. - São chaves. Chaves aladas, olhem! - seus amigos olharam para cima, cerrando os olhos. - E tem vassouras ali. Temos que apanhar a chave da porta.
- Tem centenas de chaves aqui!
Rony examinou a fechadura.
- Estamos procurando uma chave bem grande e antiga, provavelmente de prata, como a maçaneta.
Cada um apanhou uma vassoura e deu um impulso no ar, mirando o meio da nuvem de chaves. Tentaram agarrá-las, mas as chaves encantadas fugiam e mergulhavam tão rápido que era quase impossível apanhar uma.
Harry e Ellis, acostumados com as funções de apanhadores, mesmo que apenas um deles jogassem pra valer, voaram até o topo da sala e sobrevoaram as chaves, analisando-as com cuidado. Depois de um minuto, Ellis notou uma chave grande de prata que tinha uma asa dobrada, como se já tivesse sido apanhada e enfiada de qualquer jeito na fechadura.
- Aquela ali! - ela gritou. - Está ali, Harry, perto de você. Grandona, com asas azul escuro. Elas estão amassadas de um lado.
Harry precipitou-se na direção que Ellis apontou, mas como de costume, a chave voou para longe. Foi a vez de Rony tentar apanhá-la, voando na mesma direção que ela, ele bateu no teto e quase caiu da vassoura.
- Temos que cerca-la! - gritou Harry, sem tirar os olhos da chave. - Rony, você vem por cima, Hermione fica embaixo e não deixa ela descer. Eu e Ellis vamos tentar pegá-la. Certo, AGORA!
Rony mergulhou, Hermione disparou para o alto, a chave desviou-se dos dois e Harry e Ellis partiram atrás dela. Estava no meio da sala, planando, como se esperasse que eles fossem atrás dela. Ellis e Harry, um de cada lado da câmara, se olharam por alguns segundos, como se estivesse se falando telepaticamente. No mesmo segundo, inclinaram seus corpos para frente nas vassouras e dispararam, os braços esticados à frente. Quem chegasse primeiro pegaria chave, não era muito diferente de uma competição entre apanhadores no quadribol. Mas, quando chegaram perto demais, a chave desviou um pouco para a esquerda. Os dois, que tinham a atenção vidrada nela, a seguiram, sem perceber que agora voavam na mesma linha reta, prestes a colidirem.
- Harry, CUIDADO! - gritou Rony, desesperado. Hermione levou as mãos aos olhos, os tampado, com medo de assistir os amigos se trombarem e caírem. Seria uma cena horrível.
Harry, ao ouvi-lo, olhou direto para o amigo, tentando entender o motivo de seu desespero. Os olhos verdes de Rony estavam fixos em algo à frente dele e Harry, ao virar-se para observar o que era, assustou-se com a rapidez que Ellis vinha em sua direção. A garota não percebeu nada do que estava acontecendo, nem mesmo ouviu o grito do amigo. Ela não tirou os olhos da chave nem por um segundo, nem ao menos piscava. Harry tentou diminuir sua velocidade, mas já estavam perto demais para isso.
- Ellis, precisa desviar! - ele gritou com ela, que ergueu os olhos um centímetro, o encarando.
- Continue! - retrucou, esticando mais o braço. - Continue indo até ela. Confie em mim!
- Vocês vão bater!
- Continue, Harry!
Ele fez o que ela pediu, ainda receoso. Jogou mais o corpo para frente, aumentando a velocidade. A chave se mexeu mais uma vez e eles a seguiram sem hesitar. Estavam indo, agora, em direção a parede. Harry e Ellis voavam lado a lado, com poucos centímetros de distância os separando de uma colisão. Quando a chave chegou a parede e não tinha mais saída, Harry tentou apanhá-la, mas ela escorregou para baixo, fugindo de sua mão. Com uma pancada feia, Ellis acompanhou a fuga da chave e prendeu-a contra a pedra com a mão. Os vivas de Rony e Hermione ecoaram pela câmara.
- Boa, Ellis! - comemorou Harry, cumprimentando a amiga com um toque de mãos no ar.
Eles pousaram em seguida e Ellis correu para a porta, a chave a se debater em sua mão. Enfiou-a na fechadura e virou-a. No instante em que ouviram o barulho da lingueta se abrindo, a chave tornou a alçar voo, parecendo agora muito maltratada depois de ter sido apanhada duas vezes.
- Estão prontos? - perguntou Harry, a mão na maçaneta da porta. Eles fizeram um sinal positivo com a cabeça e o amigo escancarou a porta.
A câmara seguinte era tão escura que não dava para ver absolutamente nada. Mas, ao entrarem nela, a luz inesperadamente inundou o aposento, revelando uma cena surpreendente.
Estavam parados na borda de um enorme tabuleiro de xadrez atrás das peças pretas, que eram todas mais altas do que eles e talhadas em um material que parecia pedra. De frente para eles, do outro lado da câmara, estavam dispostas as peças brancas. Harry, Rony, Hermione e Ellis sentiram um leve arrepio, as peças brancas não tinham as feições..
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The Best Of Me - Harry Potter - Livro 1
FantasyOnze anos atrás, os Potters recebiam em sua casa a família Duval. Apesar de Brandon Duval e Thiago Potter serem inimigos declarados desde a época dos Marotos, a confraternização entre as duas famílias era comum, já que, mesmo com a rixa entre os doi...