Capítulo V || Art Deco

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Acordo gritando como em todos os outros dias. A diferença é que meu terror não termina ao abrir os olhos. À minha frente, parado como a escultura de um Davi demoníaco, está o estranho, com as mãos nos bolsos, me olhando com uma expressão inescrutável.

Ajeito o roupão bruscamente, ciente de que ele deve ter visto algo pela abertura. Não quero pensar nisso. Por quanto tempo esteve aí, observando meu sono agitado?

— Esqueceu de nosso encontro, Vivian? — Sua voz é assustadora e familiar.

— Não, eu só peguei no sono. — Respondo sem fôlego.

— Certo. Diga se você pensou em minha proposta.

Balanço a cabeça afirmativamente, a garganta seca.

— E pelo que vejo irá recusar... — Ele prossegue.

— Não! — Falo alto demais, levantando o corpo e fazendo o roupão se abrir um pouco de novo. Dessa vez ele olha para um de meus seios pela abertura e em seguida em meus olhos. Sua expressão é repreensiva como se eu fosse uma criança que não sabe se comportar diante de uma autoridade. Fecho o roupão agradecendo pela penumbra provavelmente esconder a vermelhidão do meu rosto. Nenhum homem, além de Eric, viu, ainda que de relance, qualquer parte minha mais privada.

— Então quer dizer que aceita o acordo que te propus? — Pergunta, ignorando minha agitação interior.

Muito envergonhada por toda a cena do roupão, apenas balanço a cabeça concordando.

— Tem que responder com palavras, Vivian. — Ele afirma, seco.

A cada vez que ouço meu nome em sua língua sou tomada por uma sensação estranha, como se fosse muito errado e muito certo ao mesmo tempo. Então me lembro:

— Você ainda não me disse o seu nome...

— Você não perguntou. — O estranho parece ter um leve humor na entonação.

— Então qual é o seu nome, senhor viajante das dimensões? — Pergunto solenemente.

Dessa vez um esboço de sorriso toma seus lábios. Meu coração erra uma batida.

— Dmitry. — Responde, sem estender a mão para um cumprimento, o que é bom, porque as minhas estão tremendo, assim como todo o resto do meu corpo.

— É um prazer, Dmitry. Você tem um nome interessante. — Tento disfarçar meu nervosismo. — De onde é?

— Bem, Vivian Louise Reyes, nós poderíamos ficar aqui conversando por horas sobre a origem de nossos nomes e nossas tristes histórias de vida, ou você poderia responder, com palavras, se aceita a minha proposta ou não. — Ele corta, impaciente.

A vergonha tinge de vermelho mais uma vez o meu rosto ainda quente. Ele sabe meu nome completo e quer demonstrar que está numa posição de superioridade em relação à mim, que não sei nada sobre ele, exceto o nome. Se é que esse é seu nome verdadeiro. Certo. Vamos em frente com isso.

— Eu aceito. — Digo finalmente, enquanto meu cérebro cansado repete "não, não, não!"

Dessa vez, ainda que não chegue aos olhos, seu sorriso é mais aberto.

— Vou esperar na sala enquanto você tira isso... — Ele faz um gesto vago para o roupão. — E coloca uma roupa. Partiremos logo em seguida.

— Ok. — Murmuro, provavelmente roxa de tão vermelha.

Dmitry passa por mim e fecha a porta atrás de si. Corro até ela e tranco à chave. Talvez tal ato seja inútil, já que ele entra em meu quarto sem usar as portas, mas me traz uma frágil sensação de segurança que agarro.

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