Capítulo VIII || Get Free

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O motorista parece incomodado com nossa demonstração de afeto. Foda-se, ele não está sendo pago para nada além de dirigir.

— Para onde, chefe? — Pergunta, finalmente.

Peço para que nos leve a um hotel. Não posso arriscar deixá-la em sua casa. Sua mãe logo saberá que saiu da clínica e quero evitar uma cena que dificultará a recuperação de Vivian. Assim que estiver melhor, pretendo fazer com ela a travessia para Nícta, onde tenho certeza de que estará em segurança.

Enquanto observo a noite da cidade, minha pequena apoia sua cabeça em meu peito e acaricio seus cabelos. É comovente o quanto ela confia em mim. Se fosse um tanto mais cética, teria dito não quando fiz a falsa proposta de ajudá-la a encontrar seu marido e, sem levá-la à outra dimensão, não haveria nada que pudesse fazer para tornar meus objetivos possíveis. Essa é uma coisa que não pode ser forçada — a pessoa tem que querer ou simplesmente não funciona. Agradeço por sua inocência e credulidade. Ela poderia ter agido assim com qualquer um, mas para a minha felicidade e a sua ruína, ela o fez a mim. E agora é minha. Minha para usar, minha para proteger. Apenas minha. Propriedade de quem nunca teve nada de valor, nada de realmente seu e agora tem.

Meus pensamentos são deixados de lado quando chegamos ao hotel. Usando documentos falsos que providenciei essa manhã, faço o check-in e logo estamos instalados numa confortável suíte. Pergunto a Vivian se deseja comer alguma coisa, mas ela, distraída, apenas nega com a cabeça. Em pouco tempo está dormindo num sono sobressaltado. Malditos calmantes.

Não consigo imaginar como mantê-la dopada ajudaria com os problemas que estava tendo com sua perda de lucidez. É certo que provavelmente ela não sairia por aí, sonâmbula, mas isso só duraria o tempo em que estivesse medicada. Tão logo os remédios fossem eliminados do organismo, esses problemas voltariam. Qual seria a intenção dos médicos e de sua mãe com isso? Mantê-la entorpecida constantemente?

Se dependesse apenas da minha vontade, daria um fim nessa vaca oxigenada. Teria muito prazer em livrar Vivian de suas mãos depreciativas e controladoras para sempre. Mas não posso fazer isso; apesar de tudo, sei que ficaria chateada com a morte da mãe e não quero vê-la triste. De qualquer forma, quer essa vadia esnobe queira ou não, sua filha é minha mulher e ela se tornou a sogra de um marginal da mais alta patente - não posso negar que esse conhecimento é bem satisfatório.

O importante é que o episódio provou que não sou apenas eu que quero tornar Vivian um animalzinho obediente à minha mercê, parece que a mãe dela teve a mesma ideia — aí está, Martin. Ainda assim, a minha alternativa oferece muito mais prazer no processo.

É claro que estando sentado na cama junto de uma Vivian adormecida me encontro completamente duro, mas minha Ovelhinha está segura hoje. Depois do que aqueles vermes fizeram, quero que ela encontre alguma segurança ao meu lado. Nada de tocá-la em seu sono. Por enquanto.

Sem ter muito o que fazer, me deito ao seu lado e a abraço de conchinha, meu pau afundado na carne macia de sua bunda. Esse é o máximo de indulgência que vou me permitir hoje. Percebo com alguma surpresa que estou realmente cansado depois de toda a agitação dos últimos dias. Assim, enfio o nariz entre as mechas perfumadas de seus cabelos e me entrego ao mundo dos sonhos.

***

Acordo desnorteado, esquecendo de onde estou. Quando me localizo, encontro o relógio sobre a mesa lateral e, olhando para o visor, noto que falta menos de uma hora para amanhecer. Eu deveria ter programado um despertador ou algo assim, mas não esperava adormecer profundamente. De todo modo, algum senso de sobrevivência primitivo me fez abrir os olhos antes da morte certa.Vivian segue dormindo e pelo seu padrão de sono que conheço tão bem, ainda está sob forte efeito da medicação. Isso é preocupante. Pensei que ela já estaria bem mais desperta e que eu poderia levá-la à Nícta.

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